Uma das mais conceituadas e respeitadas bandas do rock espanhol, o veterano quinteto granadino Los Planetas faz o uso dos epítetos com propriedade: cometeu um dos melhores discos do ano com a força do seu talento em compor boas canções, motivados por uma fase tenebrosa de caráter mundial. O arcabouço emocional foi generalizado, mas o aprendizado desse episódio perturbador, poucos conseguiram repassar seus sentimentos (dores, tristezas, esperança) com tanto comprometimento como a banda em seu novo play intitulado “Las Canciones del Agua” (El Ejército Rojo/2022).
Talvez no momento não exista melhor uma analogia com os fatos, sentimentos e ações em relação a forma da água – título inspirado num poema de Garcia Lorca. Elemento que se molda, envolve-se e incorpora a tudo, mas também é volúvel sujeito a modificações conforme o momento. Desespero e esperança oscilam nesse ambiente de vivência, assim perpassa seu conteúdo.
Em seu décimo disco com nove faixas– cuja ideia primeira começou a ser produzida antes da pandemia – retrata as reminiscências afetivas do vocalista e guitarrista Jota, seu principal compositor, quando destaca e homenageia a arte de Granada, sua cidade de origem, através do grande poeta Federico Garcia Lorca, cujo poema “El Manantial” foi adaptado na longa canção que abre primorosamente o álbum, “Se Quieres Venir” de Khaled e “La Moralla” de Carlos Cano, compositores conhecidos que dão uma tonalidade tradicionalista na primeira parte da obra.
Na sua contundente parte rock há uma critica ácida ao sistema, dissabores ao comportamento do homem e ainda sim paciente e esperançoso – o encantamento das melodias contrasta bem esse dilema de caráter particular na produção. Bastante incisivo e explicito até nos títulos “La Nueva Normalidad”, a excelente “El Negacionista”, “El Rey de España” e “El Apocalipsis Zombie”. Para quem conhece não é de estranhar o modo de pensar e atuar da banda. O disco foi lançado e já foi direto para o primeiro lugar nas paradas musicais da Espanha, fato inédito para o grupo.
Sem dúvida alguma que é uma obra-prima para se admirar e refletir, e, por que não, reconfortar o espirito do ouvinte.
Já está na minha lista dos melhores discos do ano e recomendo audição.
Não sei ainda se é mais aprazível ler a resenha ou escutar o disco, mas sem essas palavras talvez eu nem viesse a cobhecer esses caras (vai saber?!).
Linda resenha!
Obrigado, man!
Já fez o domingo ter sentido.