Festival GiraSol 2022

Festival

Nos dias 17 e 18 de setembro de 2022 Teresina voltou a sentir a energia calorosa e convidativa dos grandes festivais. O evento realizado pela Mundo BLR pretendia retornar a cultura de festivais de música em Teresina, e podemos afirmar, com toda certeza que a empreitada foi muito bem sucedida.

Contando com diversas manifestações culturais, como a dança, artes plásticas e artes cênicas, o Festival se torna uma grande vitrine e serve para impulsionar, principalmente, as atrações locais, que tiveram neste dois dias um público grande e diversificado.

O Festival GiraSol contou com mais de 20 atrações musicais, entre grandes nomes da música nacional e piauiense. O evento somou cerca de 13 mil pessoas, segundo a organização. Para Lorena Ferreira, diretora artística do Festival, “foram dois dias com muita interação entre o público, entre os artistas e principalmente uma troca de energia incrível”.

Acesso ao Festival GiraSol. Foto: Dani Marques

A equipe do Noise Land esteve presente na maioria dos shows do Festival GiraSol e traz um pouco de suas impressões sobre o que viu neste dois dias em que se respirou arte em sua essência.

Havia dois palcos, um chamado B-R-O BRÓ, destinado às atrações locais, e o Palco GIRASOL, para as atrações nacionais. O primeiro show que vimos foi da banda Acesso e Amigos do Vigia. Impossível não lembrar do Piauí Pop, grande festival que aconteceu em Teresina nos anos 2000. Público pulando e cantando junto as músicas, como se estivessem pulando na grama do antigo Jóquei Clube de Teresina. A essa altura já havia rolado Florais da Terra Quente e Planta & Raiz no palco GIRASOL, que infelizmente não conseguimos ver.

Amigos do Vigia. Foto: Rubens Lerner

O sábado foi dedicado especialmente a um público mais jovem, daí se entender Melim e Lagun entre as atrações. Mas acho que nem os mais jovens se empolgaram com essas duas apresentações. Muito abaixo do que foi oferecido no Festival.

A Bia e os Becks anunciaram uma pausa e a apresentação no Festival foi anunciada pela banda como a última. Que show! Sem dúvida alguma um dos melhores shows da noite. Ainda que o som não estivesse ajudando, a banda mostrou porque conseguiu o respeito e carinho de seus fãs. O “Universo Quenga” serviu de base para o show. Banda e público numa mesma sinergia. Com direito a participação da diva Nina Omilia quebrando tudo e de uma versão inusitada de “Maquetes Loucas” do Narquilé Hidromecânico. Que a pausa anunciada não seja grande.

Bia e os Becks. Foto: Dani Marques.

Infelizmente não vimos Validuaté e Teófilo no palco B-R-O BRÓ. Queríamos muito ouvir as músicas do novo EP do Teófilo, em especial “Viradeira”, que é quase um hino diário em nossa rotina.

Duda Beat é junção de criatividade, referências nordestinas e excelência no palco. Não desempolguem nossa emoção, mas achamos que a cantora e compositora pernambucana nasceu para performar. É muito perceptível que ela se diverte demais enquanto entrega vocais afinados e coreografias refinadas com seu balé de linhas quase clássicas. Não é qualquer passinho de t1kt0k não, meu amor. É coreografia pensada para passar a mensagem que o show tá contando. Tudo isso amparada por uma banda muito talentosa e competente. Como disse a própria Duda durante o show, tomara que ela não demore a voltar pra Teresina.

Duda Beat. Foto: BLR

Devido ao horário não conseguimos ficar para ver o CPM 22. Parece que nem o Badaui, vocalista da banda, gostou do horário que tocou, pois reclamou em rede social dizendo que não quer mais tocar depois das 2h da manhã.

No domingo, o Palco GIRASOL começou com Lil Whind (faceta rapper do humorista piauiense Whindersson Nunes). Bem diferente do que aconteceu no Rock in Rio, onde uma grande parte do público não conhecia as músicas dele, no Festival GiraSol o público cantou em uníssono do começo ao fim do show. Afinal, ele estava em casa no meio dos seus. Ele começou com uma entoada, passou pelo rap, trap, com pitadas de baião/pisadinha/forró. Foi um show bem animado! Há dias ele vinha comentando em suas redes sobre a ansiedade de cantar “Calor do Carai” no auge do que chamamos b-r-o-bró, época mais quente do ano. Desejo realizado! Whindersson levou o pessoal ao delírio. O show contou com a participação do Hungria e Rapadura. Fora isso, Whindersson  distribuiu tênis “Jordan” para o pessoal.

Lil Whind e Rapadura. Foto: Dani Marques

A banda Alma Roots certamente merecia tocar no palco principal. Infelizmente o som do palco B-R-O BRÓ continuava sem definição, prejudicando as bandas que possuíam mais instrumentos no palco. A apresentação interrompida de forma abrupta com o corte do som foi bem desrespeitoso e estranho.

O que falar desse acontecimento que é o show do Leandro Roque de Oliveira, mais conhecido como Emicida? O show teve efeito catártico no público que já estava emocionado com o show do Lil Whind. As letras do Emicida tratam de amizade, de amor, aceitação, autoestima, falam do coletivo: “tudo o que nós tem é nós”, é o que diz em Principia. Destaque para Sivuca, arrasando na percussão, e Thiago Jamelão, grandioso nos vocais. Assim como aconteceu no show do Lil Whind, o público não só acompanhou em coro, como também acompanhou em choro. Emocionante! Além da emoção que o show em si já causaria, Emicida chamou ao palco Whindersson Nunes, que assistia ao show do palco. Whindersson contou como eles se conheceram e se emocionou quando Emicida cantou “Levanta e anda”. Ponto alto do show. Impecável.

Emicida. Foto: Dani Marques

Corona Nimbus fez o palco B-R-O BRÓ tremer com o peso de suas guitarras, o show teve músicas do primeiro disco e do ótimo disco “Obsidian Dome”, com direito a Nats Melão puxando Sepultura com seu potente vocal.

Frejat fez um show relembrando vários hits da época do Barão Vermelho e Cazuza, algumas parcerias suas, e músicas da sua carreira solo como “Amor para Recomeçar”. Público entoou quase todas em um coro só.

O show do Alceu Valença foi um desfile de hits, um atrás do outro. Fez trocadilho de Girassol, sucesso do seu Leque Moleque (1987) com o nome do Festival. Moça Bonita, Coração Bobo, Morena Tropicana, Como Dois Animais animaram o festival. Afinal, são canções que tocam em temas cotidianos e cresceram junto a praticamente todos ali que tem 50 anos ou menos. O show encerrou com a belíssima Anunciação, com todos nós escutando os seus sinais. 

Hugo dos Santos é mestre na arte de misturar elementos musicais sem exagerar na dose. Trouxe toda a bagagem de sua estrada no seu show, fazendo uma miscelânea que carregava muita soul music, dub, samba e hip-hop. Tudo isso junto à Guitarra rock de Lívio Nascimento e as experimentações de Pedro Ben, num casamento perfeito dessas duas influências. Quando Afronto Subiu ao palco para fazer sua participação, a mistura enriqueceu ainda mais, com os sintetizadores bem mais presentes, somados à muito rock na guitarra. Muito bom mesmo.

Hugo dos Santos. Foto: Rubens Lerner

Ficamos particularmente tristes com o tão pouco que o Roque Moreira pode apresentar no palco B-R-O BRÓ. Num festival com tantas atrações, a dinâmica de troca de palco funcionou muito bem. Mas o tempo apertou demais e o Roque Moreira apresentou 5 músicas. Mas entregou muito. Aquela mistura boa de Rock ‘n Roll com Forró de Interior, cantando as canções junto com o público que delirou. Pena que pouco. E sim, é digna de palco principal numa próxima edição, certamente. 

Roque Moreira. Foto: Rubens Lerner

BaianaSystem é uma entidade, uma experiência, uma força descomunal. Algo que não se explica, apenas se sente, vive, se entrega e deixa fluir. A entrega da banda, que conta com Russo Passapusso como frontman, elevou a todos ali no Festival GiraSol a uma experiência que vai para muito além da música. O domínio da banda sobre os presentes, que não hesitaram em ficar até as 4 da manhã pulando o show inteiro, é algo incrível. É uma mistura louca de carnaval em Salvador com show do Ratos de Porão, com elementos musicais que carregam simplesmente toda a riqueza da música brasileira. Foi muito, muito mais que um show. E sim, GiraSol, se toda a avaliação do evento apontar para a edição de 2023, não trazer novamente BaianaSystem só será aceito por motivo de força metafísica. Showzaço! Saímos de alma lavada e, apesar do cansaço, muito, mas muito revitalizados.

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BaianaSystem

Certamente o Festival GiraSol veio para ficar. Sempre vão existir os inconformados, mas acreditamos que o Festival foi um sucesso de organização, deu um exemplo de acessibilidade e inclusão, respeito com as pessoas que cobriram o evento e bastante seguro.

Bruce Cordão afirmou: “Conseguimos plantar a semente para o Festival GiraSol, literalmente. Para os próximos anos queremos crescer muito mais. Estamos satisfeitos com nossa entrega e a recepção do público”.

Que venham as próximas edições!

**Autores: Dani Marques, Jairo Mouzzez, Rubens Lerner e Susy Oliveira.

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