Após os lançamentos dos clipes de Ride into the Storm, Tide of Changes I e II e Gods of The World, o Angra lançou oficialmente seu décimo álbum de estúdio, intitulado Cycles of Pain. E esse álbum, escutado repetidas vezes desde a 00h do dia 03 de novembro causou ótimas impressões nesse humilde escriba.
O Angra, formado no início da década de 90, obviamente, não é mais o mesmo. Afinal, foram várias mudanças na formação ao longo desses mais de 30 anos. Álbuns venerados, como o Holy Land (1995) e Temple of Shadows (2004), uma discografia sólida, dois excelentes ex-vocalistas, André Matos e Edu Falaschi… Muita história pra contar. Mas não vamos nos aprofundar muito aqui. Eu comecei essa história desse parágrafo porque precisava juntar o Cycles of Pain aos dois clássicos da banda. Porque o amanhã certamente colocará esse disco como o clássico do Fábio Lione, que nesse momento está se tornando já o mais longevo vocalista do Angra.
A banda hoje formada por Fábio Lione, Rafael Bittencourt, Felipe Andreoli, Marcelo Barbosa e Bruno Valverde, trouxe o seu melhor trabalho desde o aclamado Temple of Shadows, trazendo dosagens diferentes dos mesmos temperos que sempre permearam a musicalidade da banda: as influências do Power Metal, do Rock Progressivo e das variadas nuances da musicalidade brasileira, tudo isso aliado aos conceitos sempre bem escritos pelo Rafael Bittencourt.
Antes de começar o faixa-a-faixa que costumamos escrever por aqui, vale ressaltar alguns detalhes importantes aqui: primeiramente a presença do produtor Dennis Ward na composição de várias letras do disco, inclusive assinando Ride into the Storm sozinho, coisa não muito comum na carreira do Angra. Outro detalhe importante é a marcante presença do Fábio Lione na composição das músicas, o que deu a tônica na forma de como esse disco é cantado. Por último, a performance da banda como um conjunto. As diferentes ideias presentes são marcantes, mas embora tenham caminhos diferentes, não parecem conflitar.
O disco começa com a dobradinha Cyclus Doloris/Ride into The Storm. A primeira, cantada em Latim falando sobre a ideia geral do disco, dos Ciclos da Dores, que vem e voltam e entregando pra rápida e melódica Ride into The Storm, que coloca o ser humano de frente com a própria dualidade, de ser o demônio e o salvador de sua própria trajetória e o encoraja para, como a própria música é intitulada, a sempre avançar contra a tempestade.
Deadman On Display vem com uma introdução sombria e belíssimas linhas vocais do Lione, inúmeras variações de tempo, ótimos solos de guitarra, tudo isso com uma letra que reflete sobre o caminho da vida, como uma estrada retilínea, que coloca o homem como um espectador do próprio passado.
Tide of Changes I e II tem uma pegada mais progressiva e faz um intertexto musical com a ambiência musical de alguns elementos do Aurora Consurgens e do Temple of Shadows. A letra, em sua primeira parte, faz uma reflexão sobre a teoria do efeito borboleta e no quanto as ações do hoje interferem no futuro. E daí que Tide of Changes acaba fazendo um outro belíssimo intertexto com Carolina IV, do Holy Land, enquanto o trecho em inglês canta sobre a arrogância humana sobre o conhecer da vida, o trecho de orações a Iemanjá traz a parte mística que também faz parte da natureza humana.
Vida Seca conta com a excelente participação do Lenine cantando a parte em português e muitas referências musicais de Morning Star, do Temple of Shadows, bem como da brasilidade do Angra, com um baião na introdução. A letra fala sobre a dor de se sentir perdendo a própria fé, acalentada pela busca da compreensão desse momento.
Gods of The World certamente será a música preferida do metaleiro, digamos, raiz. Tem todos os elementos rápidos e melódicos que tornaram o Angra referência do estilo. E bebe musicalmente um pouco em Arising Thunder, do disco Aqua (2010). A letra é ótima, falando sobre como os donos do poder sempre manipulam as pessoas para continuar controlando o mundo, inclusive causando mais dor.
Cycles of Pain é a mais bela canção do disco. Uma balada musicalmente simples, algo também incomum na carreira do Angra, que traz uma letra que retrata de maneira assustadoramente real a mente de um depressivo, vivendo um do seus ciclos de dor. Quem passou por isso, internamente ou com um familiar, certamente se emocionará aqui.
Faithless Sanctuary se caracteriza pelas multicamadas sonoras, tem metal, tem progressivo e tem forró, tudo executado com muita qualidade. Uma marcante presença da musicalidade de Hunters and Prey, EP de 2002, e com mensagem na letra sobre os fantasmas do passado, que sempre continuam a atormentar, mas que o *Live and Learn* deve sempre ser o guia das decisões do hoje.
Here in The Now, outra balada do disco, aparece em duas versões: uma cantada pelo Lione e outra pela cantora e compositora Vanessa Moreno. Tem uma letra bonita que fala sobre de como construimos o futuro com as sementes que deixamos. Eu gostei das duas versões.
A penúltima canção do disco, Generation Warriors é um metal, que carrega os no elementos de Power Metal de modo mais presente. E trás uma das dores presentes no nosso tempo, onde vivemos a qualidade entre ter tudo programado por inteligência artificial, homens escravizados por tecnologia, contribuindo para a involução humana.
Tears of Blood fecha o disco, contando com a participação da cantora amricana Amanda Sommerville, fazendo um duo de Metal Sinfônico que ficou muito bem cantado o Lione, contando a história de um feminicida atormentado pelo espírito da mulher que matou. A música é belíssima.
O Angra subiu o nível. O Cycles of Pain, na opinião desse escriba, chegou no panteão dos fãs da banda, onde estavam o Holy Land e o Temple of Shadows. O Rafael Bittencourt, como idealizador dos conceitos do Angra, certamente deve ter pensado em todos esses intertextos, como uma forma de passear por todas as fases da banda, trazendo sonoridades, conceitos e contextos pra ajudar a construir essa obra. Como disso lá atrás, o molho teve muito regional, muito rock progressivo, um pouco menos de um Power Metal, mas tudo estava lá, como sempre esteve.
A banda atualmente está em tour pelo Brasil e a galera do Piauí terá a oportunidade de ver esse show no Bueiro do Rock, dia 07/12, produzido pela galera da Xtaff e D Music. A banda, além de músicas do Cycles of Pain, também vai apresentar um novo repertório com músicas que pouco apareciam nos shows, mas que estarão presentes no repertório, como Morning Star e Ego Painted Grey.
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