Em “A vida afinal – Conversas difíceis demais para se ter em voz alta”, autora trata com sensibilidade o tabu da morte e a necessidade de desmistificá-lo; obra aborda as reflexões e as decisões que tomamos quando lembramos ou entendemos que a vida termina
Nova obra da pesquisadora, professora e advogada Cynthia Araújo (@cynthia0000), “A vida afinal – Conversas difíceis demais para se ter em voz alta” (158 pág.) tem como tema central redimensionar a ideia de viver a partir da perspectiva da proximidade com a morte. Sua abordagem se fundamenta na análise de relatos de pacientes de câncer em estado avançado e trabalha o impacto de questões como autonomia e acesso à informação nas escolhas feitas por eles.
Publicada pela Paraquedas, selo da editora Claraboia, o livro conta com o prefácio assinado por Sarah Ananda, médica paliativista e fundadora da equipe de cuidados paliativos do Hospital Felício Rocho em Belo Horizonte (MG); apresentação da escritora e defensora pública Mariana Salomão Carrara, finalista do Prêmio Jabuti; e quarta capa com blurbs assinados pela roteirista e jornalista Camila Appel, pelo oncologista e paliativista Munir Murad Jr, e pela escritora e jornalista Jéssica Moreira.
A publicação é fruto da vontade da autora de tornar acessível sua pesquisa de doutorado sobre as expectativas irreais de pacientes com câncer avançado. “A ideia é refletir com os leitores sobre como a ilusão de uma vida longa e o projeto para um futuro distante pode desviar a atenção do viver o presente da melhor forma possível”, explica Cynthia.
Segundo ela, embora tenha havido um número razoável de publicações recentes sobre finitude, a morte ainda é o maior tabu do mundo moderno, ao menos no Ocidente. “Precisamos falar em morrer como a possibilidade real que é. É muito comum que, diante de doenças graves, conversas delicadas e difíceis sobre a proximidade da morte sejam permanentemente adiadas, até que seja tarde demais para fazerem diferença sobre a vida afinal”, frisa. Seguindo essa mesma linha, Mariana Salomão Carrara afirma, na apresentação, que esse livro é sobre “o médico que precisa aprender sobre a morte e o paciente que precisa, agora mais do que nunca, aprender a viver.”
Apesar da densidade da temática, Cynthia consegue expor com sensibilidade o tabu da morte e a necessidade de desmistificá-lo. Embora a obra faça uma leitura realista e, muitas vezes, dura sobre a proximidade da morte, especialmente diante de doenças graves, também apresenta, em sua escrita envolvente, uma visão leve e acolhedora sobre como pensar que morrer pode redimensionar a ideia de viver.
Para isso, além de analisar relatos de pacientes em câncer terminal, a autora compartilha sua trajetória como membro da Advocacia-Geral da União que se especializou em ações judiciais de saúde, e como pesquisa e vida real se misturaram, ao contar um pouco a história da doença grave da sua mãe.
Quando amor pela escrita, vida e pesquisa se encontram
Nascida em Petrópolis (RJ), em 1984, Cynthia Araújo mora em Belo Horizonte desde 1997 com seu marido Daniel e sua filha, Beatriz, que acabou de fazer dois anos. Formada em direito pela UFMG, ela se tornou membro da Advocacia-Geral da União dois anos depois de se formar. Mestre e doutora pela PUC-Minas, sua tese, “Existe direito à esperança? Saúde no contexto do câncer e fim de vida”, foi indicada pelo programa de pós-graduação da PUC-Minas ao prêmio Capes de Teses 2020. Em 2021, foi convidada para expor sua pesquisa no 9º Simpósio Internacional Oncoclínicas e Dana Farber Cancer Institute. Além de escrever e cantar, Cynthia ama lecionar.
Escreve desde a infância, mas só foi aceitar que é uma pessoa que escreve após começar a publicar com frequência no blog da Folha de São Paulo Morte Sem Tabu, no início de 2022. E, ainda assim, conta que só teve coragem de se chamar de escritora com a publicação do novo livro. Sua principal influência para a escrita dessa obra foi “Mortais”, do Atul Gawande. “Por um fio”, de Drauzio Varella, “O último sopro de vida”, de Paul Kalanithi, e “Como morremos”, de Sherwin Nuland, também foram referências importantes.
Desde o período da pesquisa do doutorado, Cynthia sentia vontade de compartilhar o que estava estudando com pessoas fora da área acadêmica por considerar os dados encontrados por ela algo de interesse geral. Ela também foi muito incentivada por pesquisadores, médicos e leitores de sua tese a transformá-la em uma escrita de conhecimento acessível. “Na verdade, acho que todo pesquisador devia ter essa preocupação, mas, em razão dos temas que eu abordo, isso me parecia especialmente importante.”
Provocada por esse desejo, “A vida afinal – Conversas difíceis demais para se ter em voz alta” começou a ganhar forma quando Cynthia escreveu um capítulo longo, quase de uma vez, contando o que a fez querer entender as expectativas de pacientes com câncer avançado sobre os tratamentos a que se submetem. Nesse processo, compartilhar também sua história pessoal de reflexão sobre a finitude, a partir do que sua família passou com a doença de sua mãe, foi inevitável.
Para o futuro, a autora sonha em fazer uma nova edição voltada para a leitura mais acessível também do livro que publicou a partir de sua dissertação de mestrado, sobre nazismo. Ela pretende se dedicar ao assunto em um pós-doutorado na Alemanha, com convite pendente em razão da pandemia e da sua recente maternidade.
Adquira “A vida afinal – Conversas difíceis demais para se ter em voz alta” na loja da editora Paraquedas: https://www.lojadaclara.com.br/produto/a-vida-afinal-conversas-dificeis-demais-para-se-ter-em-voz-alta-cynthia-araujo