Assim que a pandemia começou, lembro que muitas editoras passaram a disponibilizar e-books de forma gratuita; meu kindle ficou lotado, tantas as opções. Dentre elas, uma me marcou profundamente, Amoras, do Emicida.
Sentei-me com minha filha para ler, e cada vez que avançávamos na leitura, eu sentia algo inexplicável, de tão lindo que era. Não demorou muito, tornou-se nossa leitura favorita. Perdi as contas de quantas vezes li para minha cria antes dela dormir, sem ficar enfadonha ou cheia da história. Muito pelo contrário, todas as vezes eu sentia a mesma emoção.
Em Amoras, Emicida faz uma exaltação à identidade negra de forma poética. O livro, um diálogo entre pai e filha acontece num pomar, debaixo de uma amoreira, onde ele diz que “as pretinhas são o melhor que há”, e a filha conclui “papai, que bom, porque eu sou pretinha também”. Pegando esse gancho, ele fala de vozes negras que foram importantes para História, como Zumbi, Marthin Luther King. Tudo isso como forma de reconhecer positivamente essas resistências afro, reconhecermos as nossas origens.
Reafirmar, associar a negritude às coisas boas e, especialmente com uma criança, pode ser libertador. Inserir leituras antirracistas para os pequenos é romper com um sistema opressor. Por isso é tão importante lermos autores e autoras negras. Emicida soube fazer isso lindamente ao transformar o rap Amoras, nesse livro lindo.
Além da bela história, a obra conta com as ilustrações de Aldo Fabrini, um glossário no final falando sobre entidades, deuses e personalidades citadas ao longo do livro e uma bela mensagem do poeta Sergio Vaz na quarta capa.
Emicida é uma figura muito importante na atualidade, eu o consideraria um intelectual, além de todo o seu sucesso na música. Ele vem construindo um trabalho rico, com suas publicações infantis, que são um afago em tempos sombrios, além da potência do album AmarElo (tem o show e documentário na Netflix).
Leiam, escutem e vejam Emicida!