Boa noite, boa sorte e bom filme

Filme

Não sou uma pessoa do terror é importante dizer. Prefiro sempre outros gêneros ao escolher o que assistir. Mas, aceitei a recomendação do patrão Rubens e fui ver o curta Boa noite, Boa sorte! da Unity Filmes, produtora independente daqui de Teresina. O filme foi lançado em fevereiro e eu – atrasada como de costume, porém sempre em tempo de conferir uma boa produção – corri no canal da produtora pra assistir.

São 18 minutos de tensão enquanto vamos descobrindo aos poucos os motivos que movem os personagens na tela. A avó visivelmente adoentada por transtornos mentais e pelo abandono familiar. Os netos que precisam lidar com dúvidas, diante de uma figura familiar que não reconhecem mais, e culpa por se depararem com a realidade de que parte dessa transformação da anciã é fruto do distanciamento deles mesmos.

Foi uma mensagem forte pra mim que moro com um idoso e acompanho processos semelhantes. É interessante ver na ficção algo tão comum da nossa realidade. Aquele papo de que a arte imita a vida e tal. As consequências do abandono podem não ser tão terríveis quanto a gente vê no curta, mas chegam perto. Na vida, enquanto a pessoa vai perdendo suas referências de cognição e passa a não reconhecer outras pessoas de seu convívio, tudo parece se transmutar em figuras amedrontadoras. A noite é mais provocadora e comprida.

No filme, em contrapartida, a idosa é retratada como a própria criatura que põe medo. É uma caracterização meio bruxa, meio lenda do nordeste. Um pano mais fantástico pra passar essa mensagem de que se a gente não visita nossos idosos eles se transformam de dentro pra fora e de fora pra dentro. Assim, como eles podem não nos reconhecer, a gente também não vai mais se sentir a vontade com a presença deles. Não são mais os mesmos que nos acolhiam. E é hora da gente acolher.

Uma coisa que pensei enquanto via Boa noite, Boa sorte! pela segunda vez, foi numa hipótese da vó já estar morta. Ser a representação de um ser mítico que suga a vida de outros. Numa das cenas, a personagem comenta que queria “repassar o poder dela para a Erika e não conseguiu”. Posso estar viajando, mas aquela comida podre e estragada que ela quer servir não é refeição de gente viva.

Não vou falar mais muito sobre o que vi, pois gostaria que você fosse ver e tivesse uma experiência sem spoilers. Aproveita e já dá o play depois que terminar a leitura:

Sobre a linguagem cinematográfica, algumas cenas me lembraram muito de um dos filmes da série Atividade paranormal que também tem uma senhorinha meio psycho que ataca na noite. Assustador, caras!

No mais, só posso reforçar que a gente que curte essa cena tem o dever de fortalecer o audiovisual local. Assistir e divulgar o cinema independente piauiense é fundamental pra que ele cresça e nos forneça cada vez mais produções interessantes e com temáticas desafiadoras como essa. Vida longa, Unity Filmes!

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