Após os singles “Afundo” e “Troca-Peles”, o duo paulistano LA&RR (Luiz Amargo & Ricardo Resto) lançou dia 14 de setembro seu EP de estreia, Engano Chegando. O trabalho segue na direção trilhada pelas duas últimas músicas lançadas, fazendo uma rica e inusitada fusão de ritmos, como rock, funk, jazz, disco, new wave e até samba, com cada canção passando, muitas vezes, por mais de um gênero musical. Com letras que oscilam entre autoironia e dramaticidade, a dupla tragicômica narra causos de personagens excêntricos em situações equivocadas, sempre tendo São Paulo como cenário principal.
Engano Chegando é uma colcha de retalhos de composições feitas ao longo de anos, em sua maioria parcerias de Amargo e Resto, que são amigos desde 2019. Assim, o EP apresenta diferentes estilos e formas de compor, mas com a coesão e a timbragem características do duo. O trabalho foi viabilizado através de um financiamento coletivo bem-sucedido no Catarse.
Com cinco faixas, a que abre o EP é “Lero-Lero (Barato)”. Primeira parceria do duo, mistura elementos de funk e rock com harmonia jazzística, inspirando-se em King Krule. Ela retrata aquele tipo de situação em que a comunicação excessiva mais atrapalha do que ajuda. Já segunda música, “Afundo”, traça uma relação entre amores decadentes e os prédios tortos da orla de Santos (SP), altamente influenciada pela disco e pelo drum‘n’bass.
A terceira faixa, “Manteiga de Cacau”, é herança da antiga banda de Ricardo, Agulha no Palheiro, inclusive conta com a participação dela, além do saxofonista Vini Exchange. Gravada ao vivo, é uma divertida história de um casal que precisa superar um obstáculo, encarado aqui como um mau presságio: os lábios ressecados. O solo vocal improvisado de Marina Marchi no final dão um charme a mais à canção.
A música que dá nome ao EP, “Engano Chegando”, é um dos pontos altos do trabalho. Um som com bastante ambiência, a faixa é um samba com influência do funk mineiro, mas com poucos instrumentos eletrônicos. De métrica elaborada, a letra é uma espécie de crônica sobre um tema recorrente na arte, a desilusão, mas aqui o engano é personificado e o eu-lírico tem um encontro marcado com ele, situação que rende algumas pérolas, como por exemplo o refrão: O engano tá chegando e eu vou é embarcar.
Por fim, a última faixa do EP, “Troca-Peles”, retrata um personagem mutante, um ser revestido por uma carcaça de escamas de aço que se despe de sua casca para buscar algum tipo de contato com o próximo. Inspirada no baião, a música tem piano, violão e sintetizadores bem marcados.
Todas as músicas de Engano Chegando ganharão visualizers (o de “Troca-Peles” saiu dia 31 de agosto), com estética influenciada pelo cinema mudo e dadaismo. O videoclipe de “Afundo” será lançado em breve. Todos os audiovisuais foram dirigidos por Gabriel S. Mendes.
Engano Chegando foi produzido e mixado por Gabriel Assad e masterizado por Mauricio de Caro Esposito. O EP foi gravado no estúdio Sinestesia, em São Paulo. A concepção da capa é de Rodrigo Pires, Taline Caetano e Shiô Shiozuka.