Autora paraibana aborda a maternidade em seu quarto livro, “Eu, Inútil”, obra que concorre à 7a edição do Prêmio Kindle de Literatura. Filha do poeta Zé Laurentino, falecido em 2016, escritora já publicou em diversos gêneros
Para a perspectiva winnicottiana, desenvolvida pelo pediatra e psicanalista inglês Donald Woods Winnicott, “não ser visto pela mãe significa não existir”. É a partir dessa premissa que a escritora paraibana Cibele Laurentino (@cibelelaurentino) desenvolve seu quarto livro, o romance de formação “Eu, Inútil” (136 pág.), que retrata as agressões físicas e psicológicas de uma mãe e as consequências do apagamento cotidiano e violento no desenvolvimento da filha.
A obra, publicada por enquanto apenas em formato e-book, concorre à 7a edição do Prêmio Kindle de Literatura, promovido pela Amazon e pelo Grupo Editorial Record. Além da premiação em dinheiro, o romance vencedor será publicado pela Record. A ganhadora da 6a edição, Vanessa Passos, autora do livro “A Filha Primitiva”, assina o prefácio da obra de Laurentino e destaca a relevância das personagens mulheres em obras contemporâneas. “As mulheres passaram a ser centrais tanto na escrita dos próprios livros quanto como personagens centrais das obras”, afirma Passos.
No caso de “Eu, Inútil”, a narrativa se concentra na relação entre o par de protagonista-antagonista, respectivamente Madalena (filha) e Helena (mãe), mas também aborda a perspectiva de gênero e classe de personagens secundárias, como a funcionária Dolores e Marina, madrasta da protagonista. Aline, professora infantil, representa a importância da equipe escolar para identificar primeiramente agressões e outras violências domésticas. É a educadora que contesta a afirmação de Helena de que sua filha apresentaria problemas cognitivos e dificuldades de aprendizagem – um dos traços de maternidade narcísica simbolizados na obra.
O processo de produção contou ainda com leituras críticas e de leitores betas. Entre as referências que a ajudaram a compor a obra, Laurentino cita “Tudo é Rio”, de Carla Madeira, “Pequena Coreografia do Adeus”, de Aline Bei, “A filha primitiva”, de Vanessa Passos, e “Com armas Sonolentas: Um romance de formação”, de Carola Saavedra. Filmes e documentários também foram fundamentais para a composição do romance, entre eles, “Sonata de outono”, “A filha perdida” e “Mamãe morta e querida”.
“Escrevo ficção a partir da realidade que vejo” – a literatura de Cibele Laurentino
“Eu, Inútil” é a quarta obra de Cibele Laurentino, que estreou na literatura com “Cactus: poesias, sentimentos e emoções”, obra em que explora sentimentos, momentos e dores de forma modernista. O segundo livro, para o qual prepara uma continuação, é “Nobelina”, romance regionalista premiado em 2021 pelo Edital Maria Pimentel, da Secretaria de Estado da Cultura da Paraíba. A autora escreveu ainda a coletânea de contos “Todas em mim”, que permeia o universo feminino. Discorrer sobre a vivência de mulheres, aliás, é o mote de suas obras. “Escrevo ficção dentro da realidade que vejo e que me toca, principalmente o feminino, independentemente do gênero textual”, afirma.
Sobre seus processos de escrita, Laurentino explica que desenvolve seus textos de forma rápido e doloroso. “Assumo o papel dos meus personagens: sofro ou me alegro com eles”, resume. As referências da autora passeiam entre escritoras mulheres, como Adélia Prado e Clarice Lispector, assim como os escritores Valter Hugo Mãe, Mia Couto, Joaquim Manoel de Macedo e Ariano Suassuna.
A escrita, que começou na infância, sofreu a influência ainda da poesia de seu pai, Zé Laurentino, poeta popular e cordelista paraibano. No entanto, ela reforça que o legado de ser filha de um escritor nem sempre foi positivo. “Tinha vergonha de mostrar meus textos, por me comparar com ele, que tinha versos extremamente rimados e metrificados, enquanto minha poesia sempre fluiu em versos livres”, relembra.
Formada em Gestão em Turismo, Cibele Laurentino atua na área e se dedica à literatura. Atualmente, é estudante de Letras na Uninter, faz cursos de escrita criativa e é curadora do prêmio Book Brasil 2021. Para conciliar as atividades com a literatura, ela explica que escreve “rasgando espaços na vida”. “Gostaria de ter rotina e talvez um planejamento, mas não acontece comigo. Eu faço acontecer”, explica.
Confira um trecho de “Eu, Inútil”
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