Com produção do músico Sandro Sertão, composto por 12 faixas, sendo 10 em português, uma em francês — com participação da cantora francesa Nadège — e uma em inglês, as canções estão imersas numa atmosfera onírica à la low fidelity, tendo como base o indie folk. O álbum está disponível nas plataformas de streaming.
Um cavalo, uma estrada, campos borrados em tons de cinza; a capa de “Estranho estrangeiro só” (2024), de Franco Guesa, apresenta imageticamente muito do que o álbum é sonoramente. O disco abre com um violão singelo e solitário prenunciando o clima que guiará nossos ouvidos nas 12 faixas que compõem o trabalho de estreia de Guesa.
De estrutura e produção minimalistas, o disco apresenta camadas de synths, violoncelos e sonorizações, que por vezes soam como trilhas sonoras para os versos de tom existencialista, sempre acompanhados do violão e do canto poético e singular de Guesa. As paisagens sonoras construídas nos revelam construções melancólicas e texturas montanhosas e oceânicas, que nos guiam em uma viagem de reencontro de si, através de uma estrada de resignação e resiliência, que são expostas e reveladas nos versos com bastante placidez, honestidade e beleza, apesar do tom taciturno como a faixa autonomeada prediz. Guesa conduz a narrativa como quem toca violão na boca da noite, em praças, bares, esquinas e ruas da madrugada escura e soturna com seus tormentos e revelações.
Trabalho de uma mansidão, como numa boa viagem solitária de encontro ao estrangeiro que nos habita, o disco nos desperta sobre os absurdos do cotidiano, a alienação, delírios e conflitos emocionais que passamos a vida a encarar, todos os dias, diante do espelho. Questionando o estrangeiro que habita o outro lado do reflexo. Assim, o nosso viajante sonoro, com sua viola como companhia, sente-se como um “estrangeiro”, não apenas em relação à sociedade, mas também em relação a si próprio.
Seja em dias frios, chuvosos, solitários ou em estradas que nos levam a outras caminhadas, o disco questiona a busca humana por sentido em um universo indiferente e absurdo, no qual todos nós somos, ao mesmo tempo, distantes e próximos, pois como diz nosso viajante — que ao fim da audição já não é um estranho desconhecido na jornada — “as borboletas voaram pra longe das asas”.
Sobre Franco Guesa
Franco Guesa, nome artístico de Francisco Gomes, é piauiense de Campo Maior, mas reside em Teresina. Poeta, escritor, músico, compositor, letrista e cantor, é baixista do power trio de Black Metal “Anthropophagus Maniac”. Ex-integrante e fundador da extinta banda de rock “Audioteipe”, lançou o álbum solo e de estreia “Estranho estrangeiro só”.