Toda vez que me deparo com livros escritos e publicados de forma independente por mulheres, me questiono se o sentimento que as move a escrever é o mesmo que move os homens. Acredito que a resposta esteja explícita. O crescente número de coletivos de escrita e publicações, feito por e para mulheres, só mostra que essa união em prol de uma necessidade – a de escrita e publicação, tá ganhando cada vez mais espaço e lugar, rompendo com o favorecimento de grupos privilegiados ao longo dos tempos, e mesmo que não rompa, conseguem o feito de se destacar e brilhar em meio a tantas produções lançadas nos dias de hoje.
Nesse contexto de autopublicações é que entra o livro e a história de Mariana Zambon Braga, Poemas Mudos. A autora, mediadora do Leia Mulheres, tem uma trajetória de edição, diagramação, aulas de escrita criativa, sempre envolvida com o coletivo, com o intuito de dar voz à sua produção e a de outras pessoas que caminham junto com ela.
Poemas Mudos, lançado em 2020 já na pandemia, está dividido em duas partes: Sussurros e Protestos. Em Sussurros, Mariana mostra uma faceta intimista, do peso de ser mulher, da necessidade de escrever; Protestos, é a faceta preocupada com as mazelas sociais, pandemia.
No poema Avoa:
“Palavra é ave
que sabe
abrir gaiolas”
(Mariana Zambon Braga)
A autora deixa claro que a palavra liberta; pena que para muitas mulheres o silêncio não seja opcional, mas uma imposição, e que em pleno século XXI, muitas ainda sejam punidas por falarem. Mariana, ainda bem, lançou seus poemas, deu voz e vida a eles.
Já em Políticas públicas, a autora expressa sua preocupação com as desigualdades sociais:
“Mas Deus não tem partido
e não há padre
nem pastor
capaz de exorcizar o demônio da desigualdade.”
(Mariana Zambon Braga)
Poemas mudos nada mais é que a representação das nossas vozes, do mulherio que resiste ao machismo, que luta contra o sistema opressor que vigora, que tenta nos calar cotidianamente. Vida longa à toda produção de Mariana, e que seu Poemas mudos chegue aos ouvidos e olhos daqueles que precisam alento e provas da crueza da sociedade.
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