Publicado pela 7Letras, o livro “Filha” pauta temas como luto, relações geracionais entre mulheres e memória familiar; autora paulistana tem raízes e reside em Minas Gerais
Livro de estreia da escritora e professora Nayara Noronha (@livretras), “Filha” é um romance que aborda a profunda e complicada relação entre mãe e filha a partir do luto de um bebê natimorto. Publicada pela 7Letras (2022, 132 pág.), a obra conta com a orelha assinada pela escritora e resenhista mineira Thaís Campolina.
“Filha é a unidade vocabular perfeita para nomear esse livro que
começa com uma dedicatória voltada aos que não vingaram.”
Thaís Campolina, escritora e resenhista, na orelha de “Filha”
Uma mãe, uma filha e um bebê que não vingou
Ester nasceu morta. Diante de tamanha brutalidade, mãe e filha vivenciam lutos distintos que se misturam enquanto acalentam suas dores. A história é dividida em três partes narradas por diferentes personagens. As nuances de suas personalidades vão sendo gradualmente reveladas ao leitor a partir das distâncias e aproximações entre as experiências de vida de Estela e Elena, cujo relacionamento se constrói e se desconstrói pelos afetos ferozes da (não) maternidade.
A trama envolve toda a rede de relações e afetos em volta das protagonistas. Duas mulheres que se vêem cercadas (ou afastadas) de amigos, irmãs, avós, animais de estimação e memórias que vão do pacato cotidiano do interior à solidão da metrópole, perpassando diversos momentos de suas vidas. Estruturada em três partes, a narrativa de “Filha” se apresenta a partir das vozes das duas personagens, Estela e Elena, que são trabalhadas pela autora, principalmente, pelo marco da diferença. A condição de mãe e filha, a origem em comum não é suficiente para fazê-las se entenderem bem, sendo esse livro construído pelos seus encontros e desencontros.
De acordo com Thaís Campolina, na orelha do livro, mãe e filha se constroem e desconstroem, juntas e separadas. “Estela e Elena dividem nomes parecidos, uma quantidade enorme de genes, uma família comum, lembranças diferentes de entes queridos e uma história feita de um cotidiano típico das cidades do interior que acabam evidenciados pela distância física, geracional e emocional, que separam Elena, na maior cidade do país, de Estela em sua pequena e fictícia Conceição das Gerais”, escreve.
A história é marcada pelo luto, questões geracionais entre mulheres e seus desdobramentos e memória familiar. “São temas que me atravessam como pessoa”, afirma a autora, que reconhece que suas principais referências literárias também se debruçam nesses assuntos e que muito do que foi trabalhado no livro a inquieta pessoalmente. E destaca: “Com exceção do luto de natimorto que, além de nunca ter passado por essa experiência, é um tema pouco retratado na literatura e por isso mesmo que decidi escrever sobre.”
Uma obra diretamente influenciada por Ferrante e Benedetti
Nayara Noronha nasceu na cidade de São Paulo em 1988, mas tem raízes familiares em Dores do Indaiá, interior mineiro, e mora em Belo Horizonte (MG) com seus dois gatos. É professora e pesquisadora na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e, além de “Filha”, tem contos publicados em coletâneas. Suas principais referências literárias são as obras de Elena Ferrante, Natália Ginzburg, Simone de Beauvoir, Annie Ernaux, Alba de Céspedes e Mario Benedetti. “Filha” não existiria se a autora não tivesse conhecido Ferrante e descoberto seu interesse em narrativas que tratam sobre o papel social das mulheres com a honestidade da
best-seller italiana. São influências diretas em seu livro as obras “Um amor incômodo” e “Dias de abandono”. Já a forma e estrutura de sua história tem influência da novela “Quem de nós”, de Mario Benedetti.
A autora conta que a primeira frase do livro “Sou uma avó sem neta” foi um dos primeiros trechos escritos por ela, quando a ideia inicial da história ainda era escrever sobre o peso social da maternidade para uma mulher sem filhos. Somente após ouvir a história de uma atendente de sorveteria que perdeu seu bebê, ficou impactada e“Filha” começou a vir à tona.
Com uma escrita direta e repleta de frases curtas, a autora apresenta para o leitor a chance de conhecer diferentes perspectivas, dilemas e vivências que se fazem presentes em vidas comuns, ainda que por anos invisibilizadas na literatura, como o luto de um natimorto, mas não só. Quando Thaís Campolina, na orelha do livro, diz que “filha exige flexões típicas do verbo, como pessoa, número, tempo, modo e voz, mesmo sendo gramaticalmente uma outra coisa, uma palavra já generificada inclusive”, ela evidencia o quanto essa história é marcada pelo gênero. Os não ditos que aparecem de alguma forma em “Filha” e que destacam o livro surgem também do silenciamento imposto às mulheres.
Saiba como adquirir um exemplar de “Filha”
O livro está disponível para a compra nas livrarias Ponta de Lança e Mandarina, na cidade de São Paulo e nas livrarias Jenipapo, Quixote e Primeira à Esquerda, em Belo Horizonte. Também é possível encontrá-lo na Amazon e no site da editora:
www.7letras.com.br/livro/filha
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