Todas as luzes do universo – Gabriella Castro

Livros

Catarine – a protagonista, começa logo avisando que o texto é inútil, entretanto, esse mesmo texto tem a finalidade de fazer com que ela entenda-se consigo mesma. Quem conta a história é ela; mas quem conta uma história sabe que, ao lançar a história ao vento, pode atingir alguém (ou ninguém). Não foi o caso dela. 

A priori, o conto “Todas as Luzes do Universo” fala sobre lar, sobre se encontrar. Catarine, uma jovem de 23 anos, nos deixa bem claro desde o começo que sua orientação sexual/afetiva é a bissexualidade. E que não vê-la como uma pessoa bissexual é o mesmo que não vê-la. É necessário lembrar acerca do respeito para com pessoas bissexuais e entender que não são indecisas ou outras questões que aparecem a cerca do tema. Elas merecem respeito e visibilidade assim como qualquer outra pessoa que decide assumir sua orientação sexual/afetiva.

Catarine é estudante de Fisioterapia e quer ser escritora. Vive num lar onde o casamento dos pais está visivelmente desgastado, acabado. Justamente numa das brigas dos pais, Catarine questiona se os dois não deveriam se separar, uma vez que é escancarado que aquela conjuntura familiar está visivelmente fracassada e eis que, para sua surpresa, seu pai, ironicamente, joga na sua cara que ela jamais terá uma família “normal”. É claro e evidente que ele sabe da bissexualidade que ela tentou esconder de forma fracassada.

Nesse sentido, vejo que tratar essas questões por meio da literatura é relativo e fundamental, uma vez que a palavra pode chegar a lugares inimagináveis. É importante mostrar que família possui um conceito diverso e que o modelo daquela “tradicional” já caiu por terra há tempos. Há muito que falar sobre isso para que se chegue a uma compreensão do tema. Se família é um agrupamento de pessoas que se amam, por que Catarine não pode ter a sua também?

Assim, indignada com as palavras do pai, Catarine sai de casa e quase é atropelada por um ônibus. Ainda embaralhada pelo quase atropelamento do ônibus, ela é “atropelada” por Lorena, que a ajuda naquela noite tão conturbada e nos próximos meses que virão. De cara, Lorena já assume que é lésbica e que decidiu morar num pensionato porque as primas que moravam com ela se sentiram incomodadas quando ela assumiu sua orientação sexual/afetiva. Preconceito puro e escancarado, mais uma vez.

O tempo passa e as duas acabam se envolvendo. Uma relação se constrói, com alguns obstáculos, assim como toda relação. É gratificante ver pessoas LGBTQIA+ vivendo histórias de amor como outras pessoas dentro da visão heteronormativa, mesmo que ainda haja toda uma perseguição, é essencial mostrar narrativas que, mesmo não estando dentro do “final feliz”, estejam próximo disso. Esse ponto a autora trabalhou de forma exímia no seu texto. 

Na estreia de Gabriella, o conto “Todas as Luzes do Universo” mostra um romance real entre duas mulheres com muitas questões a serem resolvidas, sejam elas profissionais ou não. Catarine amadurece muito, torna-se uma mulher segura de si. Sua busca por um lar, acaba virando mote para sua escrita, que acaba no lançamento de um livro. Enquanto leitora, gostaria de ter mergulhado mais nessa história de Catarine e Lorena. Senti um pouco de pressa em finalizar a narrativa. Será a nova linguagem dos jovens? Queria ter ficado mais no texto de Gabriella. 

Arremato apontando que diversidade sempre existiu e sempre existirá. Mostrá-la na arte é visibilizar, materializar questões que a sociedade nega em aceitar e debater. O que fica é a mensagem de que a orientação sexual, seja ela qual for, necessita ser respeitada. Se a literatura for esse elo que vai fazer essa aliança entre o novo e as convenções tradicionais, já está sendo muito bem utilizada por Gabriella Castro. 

*Dani Marques

Todas as luzes do universo

E-book

60 páginas

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