A beleza e a complexidade da dor: em obra de estreia visceral, catarinense Thays Horst destrincha anatomicamente seus sentimentos em poesia 

Livros

Em meio a um contexto de bullying, infância solitária, transtorno de personalidade borderline e múltiplas personalidades, a poeta catarinense encontrou na escrita uma forma de elaborar suas emoções. Livro será lançado no próximo dia 11, em Santa Catarina.

“você é o espírito do meu silêncio

eu só quero que você faça parte da minha floresta

qual canção se canta aos mortos?”

Trecho do poema 41, de “O cobre e os figos”

Solidão, depressão, parentalidade, transtorno de personalidade borderline e suas implicações são temas recorrentes dos versos do livro de estreia da catarinense Thays Horst (@thays.horst). Publicado pela editora Paraquedas, “O cobre e os figos” (212 pág.) (d)escreve o mundo da autora, seus enfrentamentos, dores e dissociações, inspirado em um contexto de isolamento por conta da pandemia da Covid-19 e momentos de ruptura familiar. Com orelha assinada pela poeta, dramaturga e doutoranda em Literatura pela Universidade de São Paulo (USP), Carla Kinzo, e capa e ilustrações da artista visual Cândida Matos, a obra está disponível para venda na loja da editora. O lançamento presencial está marcado para este sábado, dia 11, às 16h, na Livraria Latinas (Rua Padre Lourenço R. de Andrade, 650 – Santo Antônio de Lisboa), em Florianópolis.

Thays Horst. Foto: Divulgação.

Com 31 anos, Thays nasceu na capital de Santa Catarina. Filha de um policial militar, cresceu em um ambiente onde o medo e a violência eram comuns. Vítima de bullying durante a época escolar, sempre conviveu com a depressão e baixa autoestima. Ela começou a escrever na adolescência, a partir dos 15 anos, em blogs autorais. Aos 29 anos, a poeta descobriu ter transtorno de personalidade borderline e, durante a pandemia da Covid-19, enfrentou uma piora dos sintomas, que culminaram numa tentativa de suicídio e a internação em um hospital psiquiátrico. 

Thays sempre conviveu com a depressão, mas nunca esteve pronta para a terapia. “Desde pequena sofri com relacionamentos tóxicos. Escrevo desde a adolescência, mas parei por anos no início da minha vida adulta. Após a piora dos sintomas de depressão e uma tentativa de suicídio, descobri que tenho transtorno de personalidade borderline”, explica.  Com a polarização política, Thays também teve uma ruptura familiar. “Voltei a escrever nesse contexto e, aos poucos, fui encontrando as imagens e sentimentos que queria expor. Foi um processo de aceitação, revisão e dor, mas também de enxergar a beleza nesses processos.”

Thays Horst. Foto: Divulgação.

“Em seus poemas, Horst lança granadas, explode muitos cenários, mas não deixa de falar em renascimento — como se a vida, algumas vidas precisassem se fazer a partir do que resta depois do que se rompe”, analisa Carla Kinzo, na orelha. “Temos a sensação de que Horst escreve com as mãos, mas também com o que está dentro delas — tendões, veias, sangue. É pela presença aguda do corpo em cena que vamos nos colocando em cada um dos poemas do livro; como leitores, somos convocados à sua presença, ocupando pontas de versos e o coração de cada uma das páginas, sentindo ainda sua pulsação depois que elas acabam.”

Assim como sua poesia, Thays é visceral e busca na anatomia as referências para transformar palavras em algo  gráfico, palpável, com cheiro e forma. Estudante de psicologia, a poeta descobriu nas aulas de anatomia um interesse visceral de descrever os sentimentos. Desde então, tem um fascínio pelas estruturas do corpo e encontrou inspiração para seus poemas em um meio pouco usual: livros de medicina. Clássicos como “Gray’s Anatomy”, de Henry Gray, “F.R.S., Casos  Clínicos em Medicina de Emergência”, de Toy, Simon, Liu, Takenaka e Rosh e “Encyclopaedia Anatomica – Museo La Specola – Florence”, organizado pela Taschen; foram leituras que acompanharam o processo de escrita do livro “O cobre e os figos”. 

Ela não possui um processo ou método específicos de escrita. Pensa em pedaços soltos, combinados ao que está acontecendo consigo e ao seu entorno. A princípio tinha a meta de escrever um texto por mês, mas após a finalização de “O cobre e os figos” escreve quando sente necessidade. Sobre trabalhos futuros, Thays afirma: “Meu projeto é continuar escrevendo”.  Apaixonada por música, Thays vive com seus cinco gatos — Bilbo, Aragorn, Isaac  Newton, Mirtilo e Geleia — e também com sua cachorrinha Moon. 

Confira trecho do poema 6: 

Ilustração: Cândida Matos

se você entrasse aqui

saberia

que é solitário

e eu não preciso

de ajuda

para ser a minha

ruína

vou destruir

tudo

antes que você perceba

Adquira “O cobre e os figos” na loja da editora Paraquedas: https://www.lojadaclara.com.br/produto/o-cobre-e-os-figos-thays-horst.html 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *