Noite solene para “A carta de Esperança Garcia”

Filme

O Teatro 4 de setembro foi o escolhido para a primeira exibição do documentário “A Carta de Esperança Garcia”, uma produção Trinca Filmes de Douglas Machado com o patrocínio do Governo do Piauí. Muitas autoridades reunidas, incluindo a Ministra da Cultura Margareth Menezes que cumpria agenda em Teresina, participando de outras solenidades referentes ao reconhecimento de Esperança Garcia como primeira advogada do Brasil.

Foto: Secretaria Estadual de Cultura

A noite foi repleta de emoções e antes do apagar das luzes para projeção os presentes foram surpreendidos com um protesto, realizado pelo Centro de Defesa Ferreira de Sousa – associação comunitária de defesa dos Direitos Humanos. É inegável a importância desse ato que trouxe para os holofotes as reivindicações dos movimentos sociais, que sentem na pele as necessidades que vão muito além da cultura. E como pontuou a Ministra em sua breve fala, “voltamos a ter um governo democrático em que é permitido esse tipo de manifestação”. Ainda bem, Margareth!

Foto: Susy Oliveira

Após as falas que constam em todo e qualquer cerimonial, finalmente fomos apresentados ao filme. Confesso que já estava impaciente por esse momento, já que a espera foi bem maior do que julgávamos. A programação foi toda antecipada em uma hora e mesmo assim acabou atrasando e muito.

O documentário é divido em 4 partes – se não me falha a memória. Não anotei nada durante a exibição. Preferi ficar atenta ao filme e não me arrependi. Logo de início se destaca o trabalho de som. Os próprios objetos da locação foram utilizados na produção da sonoplastia, como já tinha sido revelado no making of do filme, exibido na Mostra Piranhão.

Não vou contar muita coisa, até porque outras exibições ainda vão acontecer nos próximos meses. Mas, o que posso adiantar é que o doc tem uma carga bem densa de emoção. Principalmente se você for mulher e ainda mais se for negra. Um dos trechos mais memoráveis é a leitura de uma versão atualizada da carta, escrita pela Profª Maria Sueli Rodrigues, que colaborou também com o roteiro do documentário. A voz e a interpretação de Zezé Motta para o texto tiveram um efeito poderoso em mim. Em outras palavras, me deu um negócio forte na mesma hora.

E para citar personagens, pois penso que muito da força dos documentários vem deles, destaco a Chitara Sousa. Mulher quilombola, educadora e instrumentista que incorpora a essência das novas Esperanças Garcias. Mulheres que nos tempos atuais continuam lutando para melhorar as condições de vida do seu povo, resistindo e construindo novas histórias.

Chitara Sousa e Zezé Motta numa das cenas do documentário.

Das ausências sentidas no evento a própria Zezé Motta não conseguiu comparecer, devido a desencontros de agendas. Sua presença era esperada por todos, mas foi substituída por um vídeo em que a atriz deixou uma mensagem cheia de carinho para a produção e para o Piauí. O Ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, também não veio à Teresina. Apesar de ter sido um nome também especulado anteriormente.

Sem embargo, para o mar de mulheres negras que eram maioria na sala teatral, a ausência mais dolorida certamente foi a da Profª Maria Sueli que permeou muitos diálogos entre o público, e também entre os personagens do filme. A despeito de não estar conosco fisicamente, sua força de ancestral estava lá e vai estar toda vez que contarmos essa história daqui em diante.

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