Notas para ver #2

Audiovisual Filme

Meus textos ultimamente têm se restringido às experiências no streaming.
Peço perdão e prometo me esforçar mais não só para ir ao cinema, mas também para descobrir espaços e eventos que se conectem com o audiovisual.

Enquanto esse momento não chega, entrego mini resenhas do que tenho assistido nas últimas semanas: tem filme, série e até novela. Caso curta as opiniões e dicas fique a vontade para comentar e indicar conteúdo relacionado nos comentários. Adoro trocar figurinhas cinematográficas e afins.

A Vida Sexual das Universitárias

Essa série me chamou a atenção desde que fiquei sabendo que a Mindy Kalling é uma das criadoras. Sou obcecada por tudo que essa mulher faz. De O Projeto Mindy a Eu Nunca. Gosto demais das reflexões que ela propõe através das tramas que interpreta e escreve. O timing de comédia me agrada demais também.

Fazer rir é um dos trunfos de A Vida Sexual das Universitárias que acompanha a jornada de quatro estudantes de Essex, conceituada universidade americana. Como o título sugere, somos apresentados ao animado universo da vida sexual das protagonistas. E olha, é bastante animação. Mesmo. Os jovens transam tanto assim hoje em dia? Acho que eu era realmente uma nerd na universidade, pois na minha época não era assim. É a mesma sensação que a gente tem ao ver Sex Education na Netflix. Eita povo que transa!

A Vida Sexual das Universitárias

Entretanto, me parece que na série ter vida sexual ativa é uma prerrogativa dos corpos padrões. Apesar de existir diversidade corporal no elenco – pouquíssimo, diga-se de passagem – as cenas de sexo são protagonizadas por pessoas majoritariamente magras. E entendo toda a lógica midiática por trás disso, mas me decepciona a manutenção desse pré-requisito para estar em um relacionamento, pelo menos na ficção. A gente sabe que aqui fora todos os tipos de corpos estão produzindo amor, mas seria bom enxergar isso na TV pra variar.

O Amante de Lady Chatterley

Gravei até um vídeo falando um pouco das minhas impressões sobre esse filme e ainda não falei tudo que devia. Fiquei admirada com a beleza da produção, um trabalho sensível que penso fazer jus ao livro escrito por D. H Lawrence há mais de 90 anos. Não que eu concorde com esse lance de comparar livro e filme, pra mim a adaptação precisa estar altura na qualidade artística dentro da linguagem que se propõe. E o filme da Netflix conseguiu esse feito.

Um ótimo filme para um ótimo livro.

Falando um pouco sobre o livro que originou o roteiro, de tão explícito foi banido na ocasião de seu lançamento e ganhou publicação no Reino Unido somente em 1960. Imaginem o escândalo: um calhamaço de mais de quinhentas páginas descrevendo em detalhes um adultério numa propriedade rural. E quando eu digo detalhes quero dizer abundância de pormenores.

Pois bem. A diretora Laure de Clermont-Tonnerre traduziu na tela uma adaptação sensível e passional. Muito distante de erotizar as passagens do livro, como seria natural esperar dada a quantidade de material existente para que esse caminho fosse seguido. Eu não conhecia o trabalho de nenhum dos atores do elenco principal, exceto o de Emma Corrin que já tinha visto em Meu Policial, mas acho que gostei. Li outros textos que cobravam mais química do casal de amantes, mas penso que diante das circunstâncias e do contexto da história eles entregaram o que o clima pedia.

O Amante de Lady Chatterley

Para além das cenas de sexo, o filme traz a superfície questões éticas e o conflito de classes bastante acentuado já que Constance Chatterley é uma senhora rica e Oliver Mellors é um funcionário de seu marido.

Quatro por Quatro

Na primeira exibição de Quatro por Quatro eu tinha 10 anos de idade. A dinâmica das protagonistas que entre muitas trapalhadas resolvem se vingar de seus respectivos “conjes” me pegou muito. Tinha também a trama da menina Ângela – a órfã de pai vivo que era muito familiar pra mim por razões pessoais.

Tão jovem, eu não tinha discernimento nenhum pra perceber a quantidade de coisas problemáticas que eram ditas na maioria das cenas. Tantas que antes de cada capítulo o Globoplay incluiu um aviso que diz: “esta obra reproduz comportamentos e costumes da época em que foi realizada”.

O pior, acho, é a naturalização da violência contra a mulher. Num capítulo que vi semana passada teve até bofetadas. E pra piorar num contexto em que fez parecer que as pancadas eram merecidas, numa lógica de relacionamento completamente disfuncional. Ao estilo “pancada de amor”. Tudo errado.

Mesmo revirando os olhos e pulando alguns trechos de personagens intragáveis, como Raí, Alcebíades e Gustavo, estou viciada. Assistir essa novela me traz lembranças muito boas.

Infelizmente nenhum crush sobrou intacto de acordo com meu crivo atual. Pra citar apenas um, o personagem Bruno do ator Humberto Martins, que continuo achando muito gato naquela versão (verdade seja dita), me decepcionou total. A narrativa de coitadinho que sofreu por 10 anos até ter forças para assumir a filha não me convence mais. E ainda por cima metido a espertão e comediante. O ranço é automático. Não que eu desgoste de homens engraçados, pelo contrário. A situação dele é que não permite piada. Aí fica complicado.

Marcello Novaes, Letícia Spiller (Raí, Babalu)

Outra coisa complicada, pra dizer o mínimo, é a sequência de derrapadas do texto. Principalmente entre o Bruno e a menina que depois ele descobre ser sua filha Ângela. Antes de saberem da verdade eles se relacionam numa espécie de flerte entre um cara de 33 anos e uma garotinha de 10. Extremamente desconfortável de assistir eles “brincando” que estão ou vão namorar em algum momento.

Contudo, os capítulos cumprem a função de entretenimento. Por mais contraditório que isso possa parecer. O autor, Carlos Lombardi, sabia como conectar todas essas histórias de formas que davam muito certo. O elenco também brilhou demais, cativando uma audiência que se manteve fiel do início ao fim. Tipo eu, assistindo tudo de novo. Apesar dos pesares.

Todas as Flores

A fórmula que une cinco capítulos inéditos por semana com personagens interessantes em tramas surpreendentes parece que vem surtindo o efeito desejado para qualquer atração: aclamação popular. Pelo menos no Twitter não se fala em outra coisa se o tópico é novela. As comparações com Travessia de Glória Perez tem sido inevitáveis. Muitos usuários seguem inconformados por acharem que Todas as Flores de autoria de João Emanuel Carneiro é que deveria estar sendo exibida no horário nobre, já que a primeira apresenta muitas inconsistências e furos.

Todas as flores

Confesso que quando vi na primeira semana dei play apenas por curiosidade. Não esperava ser capturada pela história de uma moça cega perfumista, que convive com uma família de bandidas, a ponto de ficar ansiosa pelo desfecho na leva de episódios seguintes.

Também não esperava conhecer personagens tão cativantes quanto a Mauritânia interpretada pela Thalita Carauta. Ela é muito gente como a gente e ao mesmo tempo tem uma mentalidade nonsense que é muito engraçada. E é sensual também. A mulher faz tudo hahaha.

Thalita Carauta como Mauritânia, em ‘Todas as Flores’ — Foto: Divulgação/TV Globo

Para quem quiser encarar a maratona ainda dá tempo. Todas as Flores está no capítulo 40, mas deverá passar por uma pausa por conta do BBB 23.

Wandinha

Quem foi criança nos anos 90 e não se apaixonou pelo filme da Família Addams de 1991 simplesmente não viveu a infância direito. É bom demais. É o puro suco da Sessão da Tarde nostálgica que todo mundo ama.

Naturalmente, a Wandinha de quando eu era criança causou um alvoroço entre as meninas. Uma onda de identificação e sucesso igualzinho ao que a série da Netflix está conseguindo. É claro que hoje em dia com as redes sociais fica tudo mais palpável, mas o falatório no recreio da escola deve ser o mesmo.

Com todo esse apego sentimental fui ver os oito episódios e não saí insatisfeita. A trama mostra uma Wandinha ainda mais afetada pela adolescência do que a dos filmes que vi na infância. E isso é muito legal, na verdade. Dá pra justificar muitas características da personalidade dela só se valendo da faixa etária.

Wandinha

A série tem mistério, amizade, intriguinhas adolescentes, crushes e plot twists bem convincentes. É viciante e pelo sucesso – já está no top 3 das séries mais assistidas da história da Netflix – logo deve vir a confirmação da 2ª temporada. Estou no aguardo.

Acho que já escrevi demais para um post. Quem chegou até aqui, por favor, comente filme de Natal pra eu saber que preciso escrever um post sobre isso nos próximos dias.

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