É sempre incrível o momento em que a gente se apaixona de verdade por um artista. E não estou falando de gostar das músicas e só. Isso é muito simples e corriqueiro. O caso aqui é de estar constantemente obcecada e obliterada pelos movimentos artísticos e pessoais do ídolo. É um marco sensorial que atinge cabeça, corpo e principalmente o coração. Me dei conta de que estava apaixonada por Liniker quando numa madrugada dessas acordei e minha rádio mental só tocava ela, sem pausar. O ímpeto foi tal que quase dei play no spotify, mas, a necessidade de cumprir as horas de sono me impediu.
Lembro bem do seu surgimento no cenário musical brasileiro com o hit Zero. O ano era 2016. Eu, uma já desiludida da vida, estava/estou sempre em busca de novas músicas para tornar a minha existência mais agradável. Uma amiga – na época colega de trabalho – me falou entusiasmada dessa nova revelação da MPB. Aceitei a recomendação com gratidão. Mas, não disse a ela que o youtube já tinha feito esse papel dias antes.
Não dei muita atenção pra musicalidade de Liniker até então, pois sou esquisita demais perante a materiais inéditos num primeiro momento. Vai entender esse meu traço voluntário de ficar de fora das coisas quando elas estão nascendo, florescendo… Mesmo tendo ficado impressionada com a apresentação dela e dos Caramelows no Programa do Jô, não me rendi musicalmente. Me deixei levar pela figura dela – que ainda era chamado de ele – e que é linda. Captura o olhar de imediato e a gente fica meio bobo, comemorando a distância da apreciação. Olhar tão fixamente de perto causa estranhamento. Por constrangimento eu evito, mesmo que a figura admirada esteja no palco. Não gosto de incomodar.
A partir daí mantive Liniker no radar, apesar de não me aprofundar em sua obra. Tantos anos provocaram muitas mudanças, naturalmente. A artista cresceu imensa. Se tornou exuberante. Uma mulher tão essencialmente bonita, de uma beleza nos traços e nos gestos que eu nunca vou chegar nem perto de exibir. O talento como atriz também apareceu. E isso me pegou muito. Sou de uma época em que era incomum artistas serem bem sucedidos em duas vertentes. Pelo menos era isso que eu conseguia ver da superfície.
Na infância eu não tinha ideia da carreira de Whitney Houston, por exemplo. Não enxergava a grandiosidade de uma Cláudia Raia, de uma Marisa Orth, que são atrizes e também cantam. No meu pouco entendimento só era sucesso se vendesse zilhões de cópias. Se fosse no Faustão e no Gugu. E até que teve a Thalia lá pela metade final dos anos 1990 cumprindo esse papel, mas de alguma forma eu não consegui associar. O fato é que não deixa de ser algo extraordinário essa dupla habilidade que Liniker tem e vem demonstrando nos palcos e nos sets de gravação.
Em 2021, ela veio que veio. Primeiro com a série Manhãs de Setembro lançada em junho no Prime Video e no segundo semestre chegou com o álbum Indigo, Borboleta, Anil trabalho que lhe rendeu a estatueta de Melhor Álbum de Música Popular Brasileira no Grammy Latino 2022. Um feito histórico, já que ela se tornou a primeira artista transgênero brasileira a vencer essa premiação.
Claro que eu, sendo essa pessoa atrasada que sou, só fui mergulhar nessas obras agora em 2023. Certamente impulsionada pela confirmação da presença dela no Festival Girasol que acontece em novembro na ensolarada Teresina, não por acaso a minha cidade natal e residencial. Sempre dou esse mergulho quando vou em shows e festivais para conhecer melhor os artistas dos line up. Desde janeiro tô mergulhada na obra de Nando Reis, mas isso é assunto para outra publicação.
Voltando pro assunto deste texto é muito fácil se encantar com Liniker. É voz, é entrega de palco, é letra e melodia profunda. Vi o show do Rock in Rio na TV e me deu muita vontade de ver aquilo ao vivo. Vibrar junto, cantar as canções e mais que tudo: vê-la mais de perto. Me deixar envolver ainda mais pelo seu fazer artístico e sair de lá modificada. Inspirada a fazer mais por mim. Pelo meu próprio fazer. Tenho certeza de que ela vai suprir minhas expectativas em relação a isso.
De minha parte espero que este texto te instigue a ouvir e a assistir as coisas que ela produz. Se é que você já não é fã, reafirmando o meu papel de procrastinadora nesse e em outros rolês.
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