No último sábado o Teatro do Boi recebeu a Pogada Antifome, com cinco bandas do Punk Hardcore piauiense e a presença de um ótimo público pra um sábado a noite. E o encontro de gerações, tanto de público quanto de bandas fazendo som, mostrou a força do estilo em Teresina.
É importante ressaltar a boa gestão da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, proporcionando a realização desses eventos. Sou um crítico fervoroso da gestão municipal em quase todos os aspectos, mas reconheceço que a gestão oxigenou a cultura da cidade.

A noite começou com a Maldito Necrotério, que trouxe um punk com pegada anos 80 e letras com teor politizado. O quarteto fez o som de forma muito competente e aqueceu os presentes, que se fizeram chegar desde o início do evento. O show teve também a participação de Chakal Pedreira que, de certa forma, é uma espécie de quinto integrante da banda, dividindo os vocais com Dante Galvão no começo do projeto e continua colaborando .

Em seguida subiu ao palco a R.S.U., com seu hardcore com velocidade e pegada mais melódica. Conseguiram entregar com seu show a mesma qualidade técnica que se ouve nos discos Peccatum Mortiferum e Mais Uma Dose. Fábio, Flávio e Sandro, muito entrosados entregaram (acho que quase na íntegra) seus dois álbuns e ainda colocaram um Beber Até Morrer do Ratos, como interlúdio da canção de encerramento do show, cantada também por Chakal Pedreira e com direito a descida do palco por parte do Fábio, convidando a galera pro pogo.

A terceira banda da noite foi o Káfila. Fernando, Rubens e Assis destruíram. Mandaram músicas que intercalaram seus icônicos Coletivo e Playground. Em seguida, Fernando faz uma fala importante, agradecendo a todos por terem se cuidado durante a Pandemia e ter conseguido chegar até aqui e confraternizar juntos num momento onde nosso país perdeu quase 700 mil vidas. Em seguida, mandaram três músicas do seu mais recente lançamento, Necropolitica. Eu tive a honra de cantar com eles na música que cantei no EP, Familícia. Em seguida retornaram ao Coletivo e ao Playground, passeando pelos seus 28 anos de carreira, como disse Fernando, “Não tentando ser melhor que ninguém, apenas diferente”. O show se encaminhava pro fim e Chakal retornou ao palco pra cantar “Sinto Muito”, que foi relançada com a participação do mesmo no Necropolitica. No fim, os ótimos singles “Cheiro do Queijo” e “Terras Planas, Bestas Quadradas” encerraram o show.

O Obtus sobe ao palco e todos aqueles que ainda não tinham comparecido ao pogo nas bandas anteriores chegaram pra ele. E, sem nenhum exagero, tinha criança de 2 anos e gente chegando aos 60 na roda. Assim como o Kafila, o Obtus é o outro patrimônio vivo da música piauiense. Com 26 anos de estrada, o Obtus simplesmente destruiu o Teatro do Boi. São 4 cidadãos pacatos, trabalhadores, que levam a vida individualmente dando aulas, trabalhando com comércio, fazendo filmes… Mas quando essas 4 almas se juntam num palco e viram Obtus, a destruição sonora vem junto. A banda se posicionou no palco, Chakal deu boa noite, com seu jeito de cidadão pacato, bom amigo… Mas quando o homem tirou a camisa e urrou, a destruição veio. Assis descendo a lenha na bateria, Eduardo tirando todos os graves do seu belo baixo, Neto executando seus riffs possuído e o Chakal proferindo os versos que vinham das canções do Sangue no Olho, do Nokku e do Ver Ouvir Calar. São clássicos, todo mundo canta junto e a energia que emana do palco contagia a todos que estão embaixo. Entre rodas e cirandas, foi um showzaço. Senti falta de Caravana no repertório porque acho essa música a letra símbolo do que é ser Teresinense.
A noite encerrou com um ótimo show da Campo Minado 118. O quarteto que conta com Breno, Pedro, Alex e Rui, fez um hardcore com muita letra de protesto e segurou a bola lá em cima do show. Tocaram as músicas do álbum Sadomasoquismo, mandaram um VSFNI do D.F.C. e encerraram com chave de ouro a noite. Destaque pra música Governantes, que foi escrita antes dessa escória que nos governa hoje e o veste direitinho.

O saldo da noite foi a diversão, o encontro de gerações, o apoio da FCMC, da equipe da XTaff, que organizou o evento, e de todos os presentes que conseguiram juntar mais de 200kg de alimento que vão minimizar as dificuldades de algumas famílias por alguns dias. É o punk e o hardcore piauiense fazendo sua parte. E é o poder público também olhando pra essa expressão de arte e entendendo que Teresina tem grandes bandas, que precisam também de espaço pra mostrar o seu trabalho. Parabéns a todos os envolvidos.