Relatos do GiraSol

Música

Esta segunda edição do Festival GiraSol me encontrou num momento especialmente low profile. Ao contrário do ano anterior – que fiz conteúdo antes, durante e depois do evento -, dessa vez não teve reels de looks, nem fotos e vídeos em tempo real. Até um story ou outro hesitei em compartilhar, simplesmente por não estar na vibe. Não deixei, é claro, de fazer imagens de alguns momentos, sobretudo das músicas mais queridas dos artistas que ali se apresentaram e esse texto é sobre esses instantes de apreciação.

Começando com os sons do Recife

Toda vez digo que vou chegar cedo pra aproveitar mais da experiência e toda santa vez eu falho. Na sexta (10/11) cheguei e a Nação Zumbi já estava tocando pra uma quantidade de pessoas ainda tímida e reduzida. Sete horas da noite tem disso, né? Teresina é uma cidade de hábitos bem notívagos mesmo. Aqui a galera quer sair de casa na hora que o bloco de jovens idosos (tipo eu) já está é pensando em voltar.

Cheguei a tempo dessa

Eu ainda não tinha assistido NZ ao vivo e quero muito repetir a dose. A batida do maracatu misturada à sonoridade do rock é o tipo de som que me liga a algo, que ativa meus mecanismos de animação. E parece que esse é um efeito que a banda causa de forma coletiva. Era só olhar pro lado e ver muita gente curtindo os sucessos “A Praieira”, “Maracatu Atômico”, “Maguetown” e muitos outros. Espero que eles não demorem mais 12 anos pra voltar.

Me redimindo com o Conjunto Roque Moreira

Ano passado eu estava tão cansada na hora da apresentação do Conjunto Roque Moreira que simplesmente c-o-c-h-i-l-e-i durante o show. Foi cada pescada, hahaha. Nos momentos que consegui me manter acordada sentei num espacinho que tava dando sopa e acompanhei de longe as músicas e a performance que tanto amo. É de longe minha banda preferida daqui da terrinha.

Terminou NZ já tomei minha aguinha e fui pra frente do palco do CRM onde qualquer fã que se preza tem que ficar. Só nessa posição você aproveita com 100% de êxito o arrasta pé promovido por esses meninos. Quem dizer que não gosta de uma bagunça dessas não sabe como é bom bagunçar. E não me interprete mal. A trilha sonora é de altíssima qualidade. Músicos incríveis. Sou fã demais do André de Sousa e o Daniel Hulk sabe como comandar sua plateia. Tava tão propício o clima que até a galera da produção subiu no palco. Eu tava pra pedir pra cantar uma junto. 😂

Infelizmente esse foi o único show local que consegui ver de verdade. Prestando atenção e focada na entrega dos artistas. A culpa é da minha faixa etária e do fato de ainda não ter iniciado uma preparação física pra aguentar o rojão que eu mesma me imponho. Não adianta. Gosto mesmo é desse rolê de acompanhar bandas, curtir as músicas e ficar em pé de 18h às 4 da manhã. Porém, a idade chega né, mores. Sentada – mas não adormecida dessa vez – ouvi de longe as excelentes Validuaté e Narguilê Hidromecânico, sempre arrasando em suas apresentações. Uma pena o meu estado de cansaço.

Voltando no tempo

Escutar o álbum Admirável Chip Novo na íntegra mexeu demais comigo. Lembrei muito da Susy de 19 anos indo pra lan house e cantando as músicas alto enquanto recebia olhares de reprovação. E tem mais. As letras da Pitty continuam batendo forte em mim mesmo tendo se passado 20 anos. Ainda sou aquela menina só que agora tenho duas décadas na bagagem.

Dá um orgulho também por me sentir representada pela mulher Pitty. Queria demais estar naquele palco, cantando, tocando, expressando minhas indignações rimadas ou não. Ainda bem os talentos alcançam pessoas tão incríveis que vivem o sonho sem reservas e com força. Talvez esse seja um padrão que estabeleço para me considerar fã. Como é gigante a Pitty permanecer “vivona” e vivendo o rock no nordeste, no Brasil, no mundo de hoje. Aliás, vivendo de música. É foda de um jeito que nem consigo imaginar. Deve ter suas dores, mas também deve ser uma grande delícia.

Quando começou “Na sua estante” – no bloco do show onde ela já estava tocando músicas de outros álbuns – me emocionei sem nem pestanejar. É de praxe que eu chore em festivais pois a junção da música, da visão do artista, de toda a atmosfera criada pela festa atinja em cheio o meu lado manteiga derretida. Mas, dessa vez foi um choro sofrido. Uma lembrança de tudo que se passou até que eu chegasse ali. Um post-it gigante de que a minha vida já é meio a tragédia que a música anuncia. Diante disso eu choro mesmo. Tô nem aí se as luzes do palco estão viradas pra plateia facilitando o trabalho dos fotógrafos e videomakers. Nessa hora eu nem ligo de me verem com os olhos molhados. Faz parte.

Não foi só nostalgia também não, viu. Ela passeou por muitos hits de seu repertório, acompanhada de seus músicos maravilhosos e também da sua guitarra mais rock and roll impossível. Eu amo uma cantora, artista, fashionista, instrumentista, letrista e tudo mais que a Pitty é. Já quero um novo encontro.

Seu Jorge ao vivo

Não tenho nem roupa pra falar do espetáculo sonoro que é Seu Jorge. O homem é um maestro em tudo. Chega dançando no palco cheio de swing e quando a gente vê já tá todo envolvido pelo molejo dele. A voz não precisa nem comentar, né. Incrível demais. Um timbre profundo e porque não dizer né, sexy.

O grupo de músicos que ele reuniu são todos experientes e apesar de eu não conhecer nenhum de nome deu pra sentir nessa apresentação o nível alto de excelência de todos. Iam do soul ao samba de forma muito natural, me fazendo vibrar com “Ain’t no sunshine” pra depois vir com uma animada “Amiga da minha mulher”. Bem a cara da versatilidade de Jorge que passeia nesses ritmos e também em outras expressões artísticas sempre com bastante talento.

Um dos melhores shows do festival. Queria ter estado mais disposta pra aproveitar como se deve. Mas, sei que ele vai voltar ou eu vou dar um jeito de ir ao seu encontro. Salve, Jorge!

Lá vem a Glória

A expectativa era rebolar muito no último show da noite de sexta. Aí a Glória Groove entrou como uma aparição e não foi possível desgrudar os olhos dela e nem os pés do chão. A gata é hipnotizante, artista demais. Canta muito, dança, interpreta, troca de figurino e entrega tudo que os fãs pedem. Até quem ainda não conhecia deve ter saído do festival muito impressionado com o impacto da GG.

Gostei demais do medley que ela trouxe em várias canções, mashups que modernizaram hits mais antigos como a mistura de “Wonderful” de Ja Rule e “Radar” faixa do ótimo ep “Affair” de 2020; e pra citar mais um, teve “Baby Boy” de Beyoncé e Sean Paul unido a “Bumbum de Ouro”, a música de 2017 que projetou Glória para o grande público.

E foi só hit atrás de hit. Muitos visuais e coreografias incríveis. Tinha um grupo empolgado perto de mim reproduzindo todos os passos junto com a diva. Não tem pra ninguém. Ela é o momento.

Tardezinha da Liniker

Ainda bem o show da Liniker atrasou 45 minutos pra eu conseguir chegar bem a tempo da primeira música.

Meu 2023 foi bem imerso na obra dela, tem até texto aqui sobre esse assunto. Uma musicalidade sensível que consegue abaixar as ansiedades e os nervosismos, canções que transportam a gente pra um lugar mais calmo. E beleza, muita beleza.

Linda a Liniker no palco. Dançando, planando, encantando quem para pra ver. Superou e muito a ideia que eu tinha dela. De como impressiona a gente. E é generosa também. Abriu espaço pros músicos solarem, principalmente o excelente baterista e vocalista que levou a plateia ao êxtase.

Já eu, me extasiei também. O auge foi em “Baby 95” com aquele sambinha que me faz remexer as cadeiras timidamente pra lembrá-las de que elas estão lá pra isso também. Obrigada, Liniker.

Meu sangue latino

O comentário mais repetido sobre o show do Ney Matogrosso é sobre vitalidade. E não tem como discordar. Uma apresentação com poucas pausas. Só me lembro de ele ter falado uma vez que ia tomar água. O corpo. Um corpo que se movimenta. Que desafia os limites do tempo. A vitória da arte contra a gravidade. Todos querem ser como ele.

A personalidade que defende canções de outros grandes intérpretes com uma roupagem que é típica dele. E por falar em roupa, segurou o figurino até o fim mesmo no calor apocalíptico de Teresina. Muitas vezes esperei ele aparecer com outras vestes, mas não. Sustentou a proposta e cantou. Seduziu. Emocionou. Gente de todas as idades. Todas fascinadas por Ney.

Sinto por quem perdeu a oportunidade. Torço para que hajam outras. Ver ao vivo um artista dessa magnitude muda percepções. Deveria ser obrigatório pra gente colocar no currículo da vida.

A mais esperada

Desde que vi BaianaSystem pela primeira vez estou sempre ansiando pela próxima oportunidade. Vou parecer piegas, mas o que a gente vivencia com essa banda é mais que um show é um manifesto. É expressar orgulho pela nordestinidade, latino americanidade e negritude. É forte. É catártico.

Gosto da contemporaneidade do som, das misturas com ritmos latinos, das intervenções de outros artistas. O saci entrando antes da música que leva seu nome foi muito sensacional. A voz representativa da Cláudia Manzo também. Mas, teve uma coisa que eu fiz diferente dessa vez e que adicionou mais uma camada de grandiosidade: eu entrei na roda do BaianaSystem. 🤯

Estar na roda é bom demais! Dá medo de levar umas porradas, mas mesmo assim é muito legal. E só nesse show teve umas três rodas. É bonito de ver também. Às vezes eu olhava pro telão e as pessoas estavam dançando, pulando, alegres, banhadas em suor, uma força coletiva magnifica. Isso me deixava atônita e embriagada. Eu olhava pro lado e todo mundo com a expressão igual de admiração.

É um feito e tanto para qualquer artista. Provocar essa comoção. Criar uma torcida pelo retorno o mais breve possível. Com esse show finalmente me decidi em qual trio ir, quando a oportunidade de passar o carnaval em Salvador chegar.

Entre razões e emoções

Último show do festival, quando o NX Zero entrou no palco era mais de 3 da manhã. Acompanhados de uma legião de fãs que cantava tudo em uníssono, o quinteto de SP mostrou que amadureceu não só fisicamente, mas também musicalmente trazendo versões mais pesadas de seus sucessos.

Pelo menos foi a impressão que tive por não ser fã declarada da banda. O incrível é que mesmo não tendo o hábito de ouvir com regularidade, as músicas do NX estavam todas no meu imaginário. Acho que é um indicador de sucesso isso. Tocou tanto na rádio e nos programas de TV que ninguém da minha geração passou imune a canções como “Onde estiver”, “Só rezo”, “Ligação” e muitas mais.

Eu tava lá cantando todas e acionando o meu lado emo que não desabrochou no auge dessa tendência porque eu já me achava velha demais para essas sentimentalidades. Besteira, né. Hoje eu vejo. Não só vejo como choro. 🥹😅 As músicas “Cartas pra você” e “Cedo ou tarde” foram demais pro meu coraçãozinho que finge que é duro. Pelo visto e sentido nesses dois dias de festa, tô mais emotiva do que nunca. E é sobre.

Que venha o Festival GiraSol edição 2024. Ainda não estou pronta. Em breve inicio a preparação física pra curtir mais e reclamar menos da dor nos pés. Escrevo isso deitada na cama enquanto descanso os joelhos inchados. Sabendo que mesmo assim sou muito mais feliz e mais eu porque fui. Que a vida seja longa entre nós, Gira!

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