Mas chegou o Carnaval e ela não desfilou

Audiovisual Filme

Contrariando quase que a minha própria natureza não fui em nenhum evento carnavalesco esse ano. Motivos de força maior ($) me fizeram ficar os dias de folia em casa mesmo. Aproveitei pra ver filmes, pois nessa minha gana por séries quase não tenho dado atenção à sétima arte. Uma ousadia sem tamanho, é preciso dizer.

Daí fiz uma modesta lista de temas para me concentrar. Afinal, eram apenas 4 dias e eu não iria ser ambiciosa ao nível de querer atualizar tudo que tem saído ultimamente. Com o agravante de que não vou numa sala de cinema para tal. Vai ser o que tiver no streaming mesmo. Segue o baile:

1. Filme sobre Carnaval

Nessa categoria encontrei várias sugestões bem interessantes e optei logo por dois. Me empolguei com o tema. Haha. O primeiro foi o documentário ‘Damas do Samba’ disponível no Prime Vídeo. O doc conta de forma muito bonita e emotiva a participação mais que especial – e essencial – das figuras femininas na criação e manutenção do carnaval carioca.

Damas do samba

Perfis que apresentam desde as personagens clássicas como Dona Ivone Lara e Jovelina Pérola Negra; até nomes das novas gerações de sambistas, como a cantora Mariene de Castro e a rainha de bateria mirim da escola de samba infantil da Portela, Filhos da Águia.

Filhos da Águia

O filme destaca também as trabalhadoras que estão longe do glamour da Sapucaí, mas que são fundamentais para a festa acontecer. Mulheres que dedicam a vida ao carnaval e ganham seu sustento através dos desdobramentos da festa.

Pra fechar com nota 10 – de uma apuração que criei com as vozes da minha cabeça 🫠 – resolvi adicionar o musical ‘Quando o Carnaval chegar’ dirigido por Cacá Diegues e com trilha sonora de, nada mais nada menos do que, Chico Buarque de Holanda que também é um dos nomes do elenco.

E que elenco! Maria Bethânia, Antônio Pitanga, Hugo Carvana, Nara Leão. Todos esbanjando beleza e talento.

Quando o carnaval chegar

Apesar da minha expectativa elevada e desse conjunto de artistas impressionantes, o filme não prendeu muito minha atenção. E até que tinha potencial, ó. A história girava em torno de uma apresentação que esses artistas teriam que fazer durante o carnaval, mas eles estavam mais preocupados com suas relações amorosas entre si. Resultado: o show quase não sai.

Pra mim, as cenas foram um pouco atrapalhadas pelo som do filme que precisava de umas melhorias pra ser melhor compreendido. Ainda assim a experiência vale muito. Principalmente pelos musicais inspirados que do nada presenteiam o telespectador com interpretações históricas de Chico, Nara e Bethânia juntos.

2. Filme do Oscar 2023

Escolhi ‘Elvis’ pra dar check nessa categoria. E me surpreendi, pois não tinha ideia dessa perspectiva da história do cantor. Já conhecia por alto essa figura do coronel que foi seu empresário, mas nunca tive curiosidade de pesquisar a fundo como tudo se deu.

O filme, escrito, produzido e dirigido por Baz Luhrmann, é narrado pelo coronel e inicia a exposição dos fatos pelo fim. Quando tudo já tinha se passado na trajetória de Elvis. E convida quem assiste a retroceder, e entender a história do ponto de vista do narrador. O que não significa ficar do lado dele no final, é claro.

Elvis

O estilo visualmente extravagante de fazer cinema do diretor, que geralmente me agrada e muito, dessa vez me trouxe um pouco de incômodo. Talvez tenha sido a montagem que considerei um tanto quanto acelerada, mas que conversa com a carreira meteórica que precisávamos conhecer, de cabo a rabo.

Tive a impressão de que o filme correu em vários momentos e gostaria muito de permanecer em algumas situações por mais tempo. Entretanto, entendo que isso poderia estender demasiadamente a projeção, além de suas 2 horas e 40 minutos. Eu assistiria facilmente uma série com esse mesmo tema e equipe técnica. Alô, HBO Max!

3. Filme que todo mundo já viu (menos eu)

É o segundo que vejo do Almodóvar e a sensação se repete: preciso estudar crítica de cinema pra ter mais propriedade nos meus comentários. São muitas mensagens, símbolos, cores – especialmente o vermelho -, posicionamentos e movimentações inusitadas de câmera. Tudo dramático e quente. Até parece um novelão latino muito bem executado tecnicamente para a grande tela.

Mulheres à beira de um ataque de nervos

‘Mulheres à beira de um ataque de nervos’ já no título nos dá uma prévia do que vamos ver durante a exibição. A protagonista Pepa não tem estrutura emocional para lidar com o término de um relacionamento e cada ação dela é inesperada e desesperada como se Ivan fosse o último homem da terra.

Ela não é a única com questões emocionais pendentes. Praticamente todas as personagens estão em estado de desequilíbrio e isso nos entrega tentativas frustradas de suicídio e homicídio, discursos inflamados in Spanish e mais. Até o momento sigo apaixonada por Pedro Almodóvar e você pode se apaixonar também na Netflix mais próxima.

4. Filme que tá no hype

Todo mundo aclamou ‘Aftersun’ e depois de assistir não tenho outra coisa a fazer senão concordar. O filme de estreia de Charlotte Wells é sensível, disruptivo e visceral.

Não vou negar que antes de escrever essa linhas recorri à orientação dos meus críticos favoritos pra conferir, se o que eu tinha entendido era aquilo mesmo. Porque pra mim, esse filme bateu de um jeito muito pessoal, mas pelo visto é assim mesmo que ele bate em todo mundo.

Também fui uma criança com pai deprimido, não pelos mesmos motivos do roteiro, mas tristeza é tristeza e causa estrago sem interessar as causas.

Aftersun

Cheguei a pensar que só quem tivesse uma experiência semelhante poderia ser acessado por Aftersun, porém não é assim. Ele é tão potente e certeiro em sua linguagem que consegue sim sensibilizar a quem prestar atenção nos detalhes narrativos. Pode não ser fácil, a montagem é poética. Às vezes parece apenas um filme de VHS caseiro e às vezes vertigem. Mas, tudo tem um propósito pra te colocar na vibe.

E por falar em vibe, preciso destacar a trilha sonora que fica martelando na sua cabeça carregada de novas histórias para aquelas músicas. Nunca mais vou ouvir ‘Lose my religion’ e ‘Under pressure’ sem lembrar dos momentos de Sophie e Callum, hipnoticamente interpretados por Frankie Corio e Paul Mescal.

5. Filme sobre super herói

Já era quarta-feira de cinzas quando ‘Pantera Negra: Wakanda para sempre’ começou a rodar na minha TV. A tônica do filme é puxar pela emoção. Uma grande homenagem ao Pantera Negra (personagem) e à Chadwick Boseman (intérprete), precocemente falecido em 2020.

O legado do Rei T’Challa serve de base para todas as ações no segundo filme da franquia. No primeiro ato vemos o funeral do Pantera Negra e a comoção natural do povo de Wakanda que precisa aprender a viver sem seu monarca e protetor; o segundo explora o florescimento de um novo heroi, ou melhor heroina, que precisa lidar com suas dúvidas e demônios antes de ocupar o espaço deixado por T’Challa; e por fim, no ato de encerramento somos surpreendidos com uma camada adicional de emoção, ao vislumbrarmos que a dinastia de Panteras Negras pode estar apenas começando. Eu, se fosse a Disney, já estaria preparando mil produtos e plots futuros no universo de Wakanda.

Poster de Wakanda Forever

Antes de finalizar o comentário, preciso destacar a história de Namor que impressiona pelo aspecto mítico e folclórico. Sem falar que a aparição dele abriu um universo que me lembrou muito o Avatar de James Cameron. Considero minha tarefa de casa, depois desse texto, me inteirar de verdade sobre o Príncipe Submarino e torcer para mais aparições dele nos próximos filmes do MCU.

Namor.

Final de maratona com a sensação de desafio cumprido. Foi muito divertido e enriquecedor me permitir conhecer esses filmes que me deixaram querendo reprise. O difícil vai ser encontrar tempo pra fazer tudo isso de novo. E você, assistiu alguma coisa durante o carnaval?

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