Perdi o hype: TRETA

Audiovisual

Ano novo é o momento ideal para um quadro novo por aqui. Sei que estou um mês atrasada, mas ainda temos onze meses de 2024 pela frente, né. Ainda é tempo! E pra começar informo que perdi o hype e só vi agora a minissérie Treta.

Disponível no catálogo da Netflix desde abril do ano passado, a produção varreu simplesmente oito prêmios no Emmy 2024:

  • Melhor série limitada
  • Melhor ator em série limitada ou filme (Steven Yeun)
  • Melhor atriz em série limitada (Ali Wong)
  • Melhor roteiro para série limitada ou filme (Lee Sung Jin pelo episódio 01 The Birds Don’t Sing, They Screech In Pain)
  • Melhor direção para série limitada ou filme (Lee Sung Jin pelo episódio 10 Figures of Light)
  • Melhor elenco para série limitada ou antologia (Charlene Lee e Claire Koonce)
  • Melhor figurino contemporâneo para série limitada
  • Melhor edição de fotografia em série limitada ou filme (Nat Fuller e Laura Zempel pelo episódio Figures of Light)

Pra falar a verdade não estou tão por dentro assim das premiações e confesso que alguns prêmios não entendo muito bem a lógica (no futuro pode até virar um conteúdo isso), mas fiquei realmente impressionada pela quantidade de reconhecimento que a minissérie obteve.

Quando ela saiu me interessei e ela ficou perdida no mar de coisas que busco dar atenção de maneira geral. Minha prioridade era outra na época e acabei deixando passar. Algo que acontece com bastante frequência e que por isso mesmo justifica a existência desse texto e dos vídeos que tenho feito no Instagram com a mesma temática.

Treta é isso tudo mesmo?

Treta não é uma minissérie de fácil absorção. Os mais ansiosos podem desistir nos primeiros episódios e apesar de me incluir nessa classe, preferi persistir e não me arrependi. Não posso dizer que traduzi 100% da mensagem pra dentro de mim e diria que seria necessário até assistir novamente pra catar tudo que foi lançado na tela.

Entretanto, o que pegou aqui me fez concordar com o merecimento desses e de outros prêmios também. Muito muito bom o que conseguiram construir tomando como base situações que acontecem na vida da gente em meio a essa realidade capitalista louca que mina nosso tempo e nos impede de cuidar de nós mesmos. E se não cuidamos de nós porque pareceria racional e lucrativo se importar minimamente com os outros?

Ali Wong como Amy Lau

Conhecemos Ali – uma das protagonistas – e logo percebemos que ela está a ponto de explodir. Uma rotina cheia de compromissos profissionais que não parecem realizá-la, uma família aparentemente feliz e bens materiais que ela lutou muito para conquistar. Olhando com mais calma vemos um marido barriga branca (como se diz aqui no nordeste) do pior tipo: o que não faz nada sem a aprovação da mãe e faz de tudo para não desagradá-la. Ainda que isso machuque a esposa.

Steven Yeun como Danny Cho

Já Danny – o outro lado do protagonismo – tem uma situação financeira bem mais prejudicada e batalha pra fazer dinheiro numa empresa de construção civil. Mora com o irmão mais novo e quando pode envia parte do que ganha para ajudar os pais. Não tem conseguido muito êxito em nenhuma de suas atividades e não coloca muita energia no lado pessoal também. Tá deixando a vida ir passando pra ver como fica (me identifico?).

A vida dos dois muda completamente quando começam a “tretar” no trânsito e levam essa rixa até as últimas consequências. MESMO. Parece que toda a frustração não resolvida deles com suas famílias e pepinos da vida cotidiana encontra uma válvula de escape no ato de perseguir um ao outro. E o que começou como uma briguinha de motoristas estressados passa dos limites e desemboca em acontecimentos controversos e até ilegais.

Chega uma hora que a gente olha e pensa: ‘gente, mas se eles sentassem pra conversar não resolveria melhor isso’? Mas, aí não teria o enredo, né. Paciência. As questões de cada um – que passam por traumas não resolvidos, ego inflado, necessidade de controlar as pessoas ao redor – conversam com telespectadores que se identifiquem com as mazelas de ser um millennial a beira de um ataque de nervos. Sem falar na trilha sonora

Os dois episódios finais são incríveis. O penúltimo tira o fôlego e uma cena específica chega a dar um negócio de tão grotesca. Para o último, os roteiristas reservaram um momento de investigação filosofal que me lembrou muito outra produção da A24: Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo. A conversa que tanto esperei entre os dois aconteceu e eles finalmente chegaram a um entendimento.

O que fiquei esperando e não veio foi a tal explosão de Ali. Pela forma como a personagem se comportou durante toda a trama, a quantidade de sapos que precisou engolir e as verdades que teve que encarar causaram em mim essa expectativa de que ela ia sair quebrando tudo a sua volta. Talvez seria o que eu teria feito? Talvez não. Muito provavelmente Treta seja uma perspectiva que nos mostra diversos caminhos para encarar um surto, até mesmo a alternativa de não precisar surtar.

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