O efeito Renaissance

Música

Provocar revoluções faz parte do fazer artístico de Beyoncé. Para citar um exemplo, tem 10 anos que ela lançou o álbum visual que modificou como os artistas da música pop planejam seus lançamentos (veja o vídeo abaixo para entender melhor). Na época, eu nem era tão atenta a esse tipo de detalhe e só curti a sequência de músicas e clipes como uma mera fã que sou.

Hoje em dia tenho a percepção mais aguçada e o olhar profissional mais treinado para enxergar estratégias quando me deparo com uma. Mas, a Bey é mais que um plano de marketing muito bem feito. Ela tem substância, propósito, causa, talento, musicalidade e um quê de realeza que encanta muitos públicos mundo afora. Ela sabe como encantar.

Durante a última semana eu já aguardava com ansiedade a exibição nos cinemas de “Renaissance – a film by Beyoncé” e já estava com meu ingresso comprado, quando na quinta (21/12) a noite entrei casualmente no Twitter – também conhecido como X. Só se falava que o jatinho da cantora estava a caminho do Brasil e que tinha uma galera rastreando o itinerário da Queen.

Meu espírito de fofoqueira foi automaticamente aguçado e daí em diante era F5 atrás de F5 para saber de todos os passos dessa tour. A partir disso foi só o puro suco de memes BR e a alegria de embarcar num surto coletivo torcendo para que fosse verdade no final. Os boatos já corriam a timeline de que ela vinha para um evento de lançamento do filme em Salvador, exclusivo e restrito para um seleto grupo de convidados.

Que sortudos! Já tinha muita gente chegando ao Club Renaissance e muita gente lamentando que tinha declinado o convite. A internet inteira unida em um só tópico.

A expectativa crescia na velocidade que as horas se passavam e já tinha influenciador fazendo live direto do evento. O auge pra quem não queria perder nada desse momento histórico, se é que ele ia realmente acontecer. A live da Magá Moura (@magavilhas) no instagram chegou a picos de 9 mil pessoas acompanhado os instantes que antecederam a entrada de Beyoncé no palco. Sim, ELA VEIO.

Foi muito louco. Nem parecia verdade. As imagens de baixa qualidade de quem filmou, streamou e fotografou deixavam uma dúvida na nossa cabeça: era ela mesmo? Mas, era sim. Aos poucos iam aparecendo imagens em melhor resolução e notícias de muitos veículos nacionais para celebrar a presença da rainha em terras baianas. Nem sei como consegui dormir depois de tanta adrenalina e o melhor ainda estava por vir na noite seguinte.

Na sexta (22/12) cheguei ao shopping faltando 15 minutos pro filme começar. Ainda deu tempo de tentar fazer uma foto de look, mas fiquei com vergonha porque tinha muita gente no banheiro feminino inibindo minha selfie. Desisti e fui pra fila da pipoca onde alguns poucos fãs se concentravam. A noite de gala tinha sido a anterior e a sessão estava até meio vazia quando entrei na sala.

Apesar de gostar de trailers estranhei a quantidade numerosa que atrasava o início do filme que estávamos lá para ver. Esse era o tamanho da minha ansiedade. E ela tinha muita razão de ser. A tela se iluminou com cenas da Renaissance World Tour costuradas a depoimentos do processo criativo por trás do espetáculo e também de outras fases da vida de Beyoncé. Um material rico pra fã nenhum botar defeito.

E na hora das apresentações musicais todo mundo cantava junto e aplaudia. Sim, aplaudia. Hahaha. A pequena audiência respondia aos comandos da cantora, ainda que estivessem separados por uma projeção. Sou mais do tipo tímida nessas ocasiões e não me empolguei tanto. E mesmo vibrando a minha maneira foi tudo muito divertido e emocionante.

Não é o primeiro documentário que eu vejo dela, o outro tá na Netflix, e mais uma vez ela consegue reforçar a imagem de artista fora da curva e mulher negra que continua prosperando na indústria do entretenimento. O grande lance desse registro de agora é mostrar uma face mais madura de Beyoncé, tanto no ofício quanto na sua trajetória de vida.

E ela faz tudo. Pensa até no esquema de luzes do show, se atém a todos os detalhes com bastante obsessão. Não tinha como esperar menos de uma virginiana.

Vemos também traços da mãe que ela se empenha ser pra Blue Ivy e pros gêmeos. A Blue, inclusive, tem um bloco do filme só pra ela, o que me fez ter a conclusão mais óbvia possível sobre uma futura diva pop na família Knowles Carter. Será que vem aí?

A cena final ao som de Summer Renaissance fechou também o meu ciclo de reflexões vendo aquela mulher 40+ na tela, movimentando o mundo inteiro com a sua arte. Ao tempo em que é desafiador permanecer relevante num mundo que joga mulheres nessa faixa etária para escanteio, Beyoncé nos faz enxergar que é possível fazer o que a gente quiser fazer.

Claro que ela tem seus meios, né!? Um patrimônio material que permite prosseguir realizando seus sonhos. Eu poderia ter saído da sala de cinema me achando menor só de olhar para o tamanho do império que ela construiu. Só que o efeito que ela causa é diferente. É óbvio que a gente não vai se tornar uma diva pop do dia para a noite nem literalmente, nem figurativamente. Mas o jeito que ela se comunica com os fãs e com o mundo nos diz que é muito empolgante viver, apesar das dificuldades que certamente vão surgir pelo caminho.

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