O que nos faz brasileiros? Moacyr Godoy Moreira lança histórias fotográficas e híbridas em seu quinto livro de narrativas

Livros

Publicado pela editora Paraquedas, “Um certo nascer ali” é um convite ao debate para os tempos pós-pandemia; a obra foi lançada ontem, dia 13 de fevereiro, no Bar Balcão em São Paulo.

Moacyr Vergara de Godoy Moreira (@moacyr_godoy_moreira_escritor), nascido em São Paulo em 1972, é médico e mestre em Literatura Brasileira. A paixão pelas letras nasceu aos dezessete anos, através de um professor que estimulava seus alunos a escreverem textos narrativos, e a não se aterem a fórmulas pré-fabricadas exigidas pelas provas de vestibulares. O resultado disso foi uma nota dez na redação da prova da PUC de Campinas, que o classificou em segundo lugar de todo o vestibular para Medicina da instituição. 

Em sua quinta publicação, pela editora Paraquedas, há textos mais antigos, convivendo com narrativas escritas ao longo dos últimos meses. Para escrever “Um certo nascer ali(222 pág.), o autor conta:

“Procurei refletir sobre o que nos faz brasileiros, este ‘certo nascer ali’ que nos define e por outro lado nos condena a uma certa imobilidade, um redemoinho que nos leva mais ao fundo do poço que a algo mais luminoso, na maior parte das circunstâncias”. 

Moacyr Godoy Moreira. Foto: Divulgação

“O que temos aqui, antes que o leitor torça o nariz ao ver mais um compêndio de pseudorreflexões, é o extrato do melhor da sensibilidade de um autor experimentado, que já transitou com desenvoltura por todas as formas literárias, seja da prosa ou do verso”, expõe o escritor Manoel Herzog, que assina a orelha do livro. “E que se pode dar ao desfrute de nos brindar com histórias fotográficas, instantâneas, que tantas vezes nos dão a oportunidade a nós, leitores, de complementar o gran finale ou mesmo antecipar um preâmbulo onírico. É o chamamento vivo do leitor a compor a obra, a dela participar, instigando-lhe a inteligência de forma prazerosa.”

Em narrativas híbridas de gênero, como expõe o escritor Ronaldo Cagiano no prefácio, Moacyr oscila em uma “tênue fronteira entre o conto e a crônica, pois habilidoso escultor, o escritor constrói uma tessitura que funde realidade e ficção, cujo resultado culmina numa epifania de linguagem”.

Por ser médico da linha de frente durante os anos de pandemia, ele esteve exposto ao cotidiano da morte e do desespero, diante de um governo central omisso. Isso o levou a olhar mais profundamente as contradições do ser humano. Moreira analisa de perto personagens que sobrevivem às mais diversas intempéries; mazelas e alegrias que nos caracterizam como cidadãos pouco afeitos ao voto e muito pouco educados politicamente. A capa e as ilustrações presentes no livro são do artista plástico Enio Squeff, e conversam diretamente com o conteúdo trazido pelo escritor. 

Autores como Lygia Fagundes Telles, Rubem Fonseca e Sérgio Sant’anna sempre guiaram Moacyr Godoy Moreira em sua prosa, que navega entre a crônica e o relato descritivo, a contação de histórias anedóticas a alguma pitada de reflexão.

Uma trajetória literária consolidada

Moacyr Godoy Moreira. Foto: Divulgação

Os textos de “Um certo nascer ali” foram produzidos em momentos e situações diversas, o que condiz com o processo de escrita completamente caótico do autor. Porém, ele acredita que cada projeto demande uma forma diferente de dedicação. Atualmente, ele está trabalhando num romance, que exige pesquisa e escrita diárias. 

Além do romance em desenvolvimento, o Moacyr tem dois novos livros a serem lançados pela Paraquedas (um de contos, chamado “Um mundo de bancos nus” e um com fotos e textos curtos, escritos a partir de imagens, chamado “Luzes da natureza”). Moreira também pretende iniciar alguns projetos de literatura infantil e juvenil. Alguns de seus contos estão sendo adaptados para o teatro, e a partir deste ano devem se iniciar as encenações. 

O autor já publicou outros quatro livros pela Ateliê Editorial: “Lâmina do tempo” (contos, 2002); “República das bicicletas” (crônicas, 2003), com projeto gráfico e capa da artista gráfica Silvana Zandomeni e prefácio de Lourenço Diaféria; “Ruídos urbanos” (narrativas curtas, 2008), com prefácio de João Anzanello Carrascoza, e “Soalho de tábua” (contos, 2012), textos escritos a partir de versos de Adélia Prado, com prefácio de Moacyr Scliar.

O autor já publicou outros quatro livros pela Ateliê Editorial: “Lâmina do tempo” (contos, 2002); “República das bicicletas” (crônicas, 2003), com projeto gráfico e capa da artista gráfica Silvana Zandomeni e prefácio de Lourenço Diaféria; “Ruídos urbanos” (narrativas curtas, 2008), com prefácio de João Anzanello Carrascoza, e “Soalho de tábua” (contos, 2012), textos escritos a partir de versos de Adélia Prado, com prefácio de Moacyr Scliar.

“Ao fechar os olhos, nos últimos dias, tenho vivenciado batalhas sangrentas, homens amedrontados se engalfinhando para defender reinados mesquinhos.

Vejo-me no meio deles, golpeando com destreza uma espada pesada e matando inocentes que me disseram ser o inimigo.

Os movimentos frenéticos permitem adiar o inevitável desfecho, salvam-me a vida mais do que conquistam territórios. Tenho frio. Tenho sede. Tenho medo.

Mas a necessidade de sobrevivência supera em muito esses caprichos menores.”

Trecho de “Um certo nascer ali”, editora Paraquedas, 2023, pág. 48 e 49

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